A Petrobras informou nesta segunda-feira (16) que a política para reajustes no preço dos combustíveis vai considerar o “custo alternativo do cliente” e o “valor marginal para a Petrobras”, e não parâmetros internacionais, como o petróleo e o dólar, da maneira que é feito desde 2016. Mas o que isso vai significar na prática?
Segundo a empresa, o custo alternativo do cliente contempla as principais alternativas de suprimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos. Sendo assim, o preço do combustível vai variar a depender da região e do que estiver competindo com ele.
Já o valor marginal para a Petrobras é baseado no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia dentre elas, produção, importação e exportação do produto e/ou dos petróleos utilizados no refino.
Para Cristina Helena Pinto de Mello, Economista com Doutorado em Economia de Empresas pela FGV, com as novidades, a empresa se torna, ao mesmo tempo, mais flexível e competitiva.
“Essas duas regrinhas permitem escolhas. A empresa pode olhar qual a melhor alternativa para a empresa para garantir maior lucratividade dos negócios. Foram flexibilizações importantes, mas resta saber como será operacionalizada”, afirma.
“Por exemplo, se na bomba de combustível o álcool está muito mais barato, a gasolina deixa de ser competitiva e a Petrobras deixa de realizar a venda, ela perde renda, perde comercialização, então a precificação tem que olhar pro produto que compete com ela para o consumidor”, explica.
A economista reforça que o PPI (Preço em Paridade de Importação) seguirá sendo uma das variáveis analisadas pela empresa para pautar os preços internos, mas deixa de ser a única.
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A estatal afirma que, apesar do fim do PPI como parâmetro único, manterá alinhamento aos preços competitivos por polo de venda, tendo em vista a melhor alternativa acessível aos clientes.
“Nosso modelo vai considerar a participação da Petrobras e o preço competitivo em cada mercado e região, a otimização dos nossos ativos de refino e a rentabilidade de maneira sustentável”, declarou o diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser.
“Abrasileirou?”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu, durante a campanha eleitoral, “abrasileirar o preço dos combustíveis” . Na visão da economista Cristina Helena Pinto de Mello, a promessa foi cumprida com a implementação das novas métricas.
“Ele trouxe uma lógica do mercado doméstico, seja do ponto de vista da oferta, de qual o melhor interessa da companhia, seja da demanda, adequando a competitividade do combustível ao consumidor final”, opina.
Durante a vigência do PPI, de 15 de outubro de 2016 até hoje, 16 de maio, o preço do botijão de gás de cozinha de 13 quilos (GLP), na refinaria (produto mais demandado pela população de baixa renda), variou 223,8%, registrando 34 altas e 14 baixas. Enquanto isso, o barril do petróleo (em R$) subiu 61,9% no período e a inflação medida pelo IPCA/IBGE acumulou 36,6%. No mesmo período, a gasolina variou 112,7%, e o diesel, 121,5%, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP), com base em dados da Petrobras.
Para a especialista, no entanto, ainda é cedo para cravar uma redução imediata do preço na bomba.
“Não dá pra dizer quando, nem como, mas dá para afirmar que pode cair, sim, o preço. Normalmente, ajustes para baixo são mais lentos e mais difíceis. É mais fácil não subir o preço do que reduzir. Mas há sim uma possibilidade de queda de preços até para experimentar a nova regra, para verificar se, de fato, melhora as vendas.”