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Professores relatam ameaças sofridas em sala de aula

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Para professores que estão rotineiramente envolvidos no cotidiano das unidades escolares, o cenário de medo e insegurança é uma constante. De boca em boca, correm histórias de educadores que foram ameaçados ou até mesmo agredidos. Conforme informações da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), entre as principais ocorrências registradas em unidades escolares de Mato Grosso, em janeiro e fevereiro de 2019, estão 99 furtos, 44 ameaças e 22 lesões corporais. Não há informações sobre números exclusivos envolvendo professores.

Existe registro ainda, entre janeiro e fevereiro, de 12 casos de difamação, 7 injúrias, 10 desacatos, 3 roubos, 5 vias de fato, 4 casos de tráfico e um estupro de vulnerável.

A reportagem do GD entrevistou dois profissionais, que não quiseram ser identificados, para falar sobre as experiências vivenciadas em sala de aula. Apesar de nenhum ter sofrido qualquer tipo de agressão, foram vítimas de xingamentos e ameaças.

No caso de Francisco*, professor temporário de história em uma escola pública de Várzea Grande, na baixada cuiabana, ele está há pelo menos 5 anos lecionando. Ele contou que já deixou de repreender alguns estudantes indisciplinados por medo das represálias.

“Geralmente respondem com xingamentos porque não aceita que se coloque limites nele dentro de sala de aula, ainda mais que não é um cara que não é nem a mãe, nem o pai dele. Então pelo menos na cabeça dele ele acredita nisso”, afirmou.

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Ele dá aulas para alunos de ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, e afirmou que sua matéria exige debates que necessitam de interpretação de escrita e de texto. Estudantes que não prestam atenção e tumultuam a classe tendem a tratar sua disciplina com desdém.

“Aquela gurizada que já sabe, entende a lógica do ciclo de estudos e barbariza. É claro, não são todas. Mas em uma sala com 25 alunos são 3 ou dois que são barulhentos e chamam a atenção dos demais”, disse.

Por atuar na periferia, ele acredita que muitos estudantes são desassistidos pelos pais e vivem em famílias desestruturadas, em que os responsáveis terceirizam a educação e a criação dos filhos para a própria escola.

“Depois que você repreende o aluno ele vai para coordenação e você fica frente a frente com ele. O clima de desafio permanece porque o adolescente não vai querer sair perdendo nessa lógica. O medo nesse sentido é que algo pior possa acontecer.”

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Outro professor, Pedro*, leciona em uma escola particular e, apesar de ter experiências de conflito, afirmou que nada se equipara às ameaças que outros professores vivenciam em escolas públicas.

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“O que acontece é quando os alunos são maiores, mais fortes que você eles querem te intimidar. Não é uma coisa tão direta quando ao que acontece com meus amigos que trabalham na periferia. É uma ameaça velada, indireta”, disse.

Ele contou que uma vez, ao exercer a autoridade de professor, se sentiu intimidado ao precisar tomar o celular de um aluno que estava colando na prova. Com isto, o professor não seguiu as normas do próprio colégio e deixo que o estudante continuasse a avaliação.

Contudo, ele ainda acredita que nas escolas particulares os pais estão mais presentes e dispostos a mediar os conflitos causados pelos estudantes. Por isso, a situação seria menos complicada do que com as escolas públicas.

“Geralmente os pais estão pagando a escola, então eles vão às reuniões, estão presentes. Eles vão tentar resolver. Fazer com que a família intervenha pode amenizar um pouco a violência direta nesses casos”, finalizou.

* Nomes fora escolhidos para preservar as identidades dos professores

Texto: Ana Flávia Corrêa/Gazeta Digital (GD)

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