A juíza interina da 3ª Vara Criminal, Simone de Farias Ferraz, revogou as prisões preventivas dos réus Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, Gabriel Nicolau Translavina Hafliger, Jacqueline Stanescos e Slavko Vuletic.
A viúva de Jean Boghici , um dos mais importantes marchands de arte do Brasil, acusou a filha de mantê-la em cárcere privado, de janeiro de 2020 a abril de 2021.
Ao procurar a Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti) para denunciar o crime, a mãe de Sabine, que na época tinha 82 anos, contou ainda que a filha e um grupo de videntes extorquiam dinheiro dela em troca de “tratamento espiritual”.
A magistrada optou pela manutenção da prisão do casal por entender que a liberdade de ambas poderia ser um risco para a vítima, a mãe de Sabine. Mãe e filha travam uma batalha judicial pela herança deixada pelo colecionador Jean Boghici, pai da ré, morto há sete anos.
De acordo com a vítima em depoimento, ela foi ameaçada pela própria filha com uma faca em seu pescoço e chegou a deixá-la sem comida para que fizesse transferências bancárias aos golpistas.
Essas informações foram confirmadas pelo delegado Gilberto Ribeiro, titular da Deapti, em coletiva realizada na tarde desta quarta-feira (10 de agosto), na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio.
Advertisement
Operação Sol Poente
A polícia deflagrou a Operação Sol Poente, batizada com o nome do quadro da pintora Tarsila do Amaral, recuperado durante a ação que culminou na prisão dos acusados.
Na época, a Deapti calculou que Sabine desviou com os cúmplices R$ 724 milhões da mãe dela nos últimos três anos, principalmente em obras de arte de pintores famosos como Tarsila, Di Cavalcanti, Alberto Guignard, Antônio Dias e Rubens Gerchman, além de joias. Segundo os investigadores, cerca de 20% das pinturas roubadas foram apreendidas na operação.
Os réus Diana Rosa e Gabriel deixaram a prisão nesta sexta-feira (2), segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), assim que os alvarás de soltura chegaram nas unidades prisionais.
Já Slavko e Jacqueline estavam em prisão domiciliar, sendo que esta última fazia uso de tornozeleira eletrônica. Com o alvará os quatro estão totalmente livres, inclusive do aparelho de rastreamento.
Medidas cautelares aos acusados
Em sua decisão, a magistrada impôs algumas medidas cautelares aos acusados como a apreensão de seus passaportes; proibição de contato, por qualquer meio (inclusive via redes sociais, aplicativos ou telefone), com a vítima e demais testemunhas arroladas pelo Ministério Público; e o comparecimento mensal ao cartório do Juízo, até o décimo dia de cada mês, assim como nos dias das audiências quando forem intimados.
Também não foi permitido aos réus que se ausentem da comarca ou mudem de residência, sem prévia autorização judicial. Outra determinação da magistrada é que eles se mantenham afastados da viúva de Jean Boghici. Pelo menos, a 500 metros de distância dela.
A juíza destacou ainda na decisão que “se por um lado todos os réus foram denunciados pela prática de todos os crimes; por outro é forçoso reconhecer que, diante de prova colhida até então, os indícios de emprego de violência e grave ameaça por parte dos acusados Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, Slavko Vuletic, Jacqueline Stanescos e Gabriel Nicolau Translavina Hafliger não se mostram com a robustez suficientemente apta a motivar a manutenção da segregação corporal”.
Quadrilha “familiar”
Segundo as investigações da Deapti, os crimes teriam sido planejados pela filha da vítima e Rosa Stanesco Nicolau, a Mãe Valéria de Oxossi, no fim de 2019.
Advertisement
A quadrilha, na verdade, se formou num núcleo familiar. Rosa é mãe de Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger, um dos homens que receberam transferências bancárias feitas pela idosa, e irmã por parte de mãe de Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, que se passou por vidente e fez a abordagem à vítima numa rua de Copacabana, onde a viúva de Jean Boghici mora, de frente ao mar. Já Diana é filha de Slavko Vuletic.
De acordo com as investigações, ela teria recebido valores em sua conta bancária mediante extorsões feitas à vítima. Jacqueline Stanescos, que também se passava por vidente, é prima de Diana e de Rosa.