A ansiedade e a depressão podem levar para um caminho sem volta e isso muitos já sabem. Até o amarelo, uma cor vibrante e alegre é usada para chamar a atenção durante um mês inteirinho, marcando o Setembro Amarelo. Dentro desse calendário, ainda tem o dia 10 que potencializa as ações por se tratar do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. E as iniciativas têm resultados positivos com histórias de superação.
“Não consigo avaliar como eu estaria hoje se não fosse aquela médica. Foi ela que teve a primeira visão de que eu estava em crise”, explicou M.S.C.R., moradora do bairro Dr. Fábio, em Cuiabá, paciente da Unidade de Saúde da Família, localizada no mesmo bairro.
Aos 34 anos, a paciente que continua sendo atendida pela saúde pública de Cuiabá, é casada e relata que há três anos procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com dores muito fortes.
“Não sabia que estava naquele nível de ansiedade, passava mal, com dores físicas, dor de barriga e de cabeça, formigamentos e até febre. Mas, aquela médica teve a primeira visão, me deu um calmante e me mandou para casa e voltasse no outro dia. Quando retornei as dores tinham passado. Ela então conversou comigo, me orientou e encaminhou para o psicólogo e um psiquiatra. Hoje estou outra pessoa e minha família percebe isso”, relata.
A situação de M.S.C.R. atingiu quadros depressivos quando teve um aborto e só descobriu o óbito do feto durante um ultrasson. Na ocasião, ela perdeu o prazer pela vida ao ponto de que a alegria das pessoas não fazia a menor diferença para ela. “Podiam fazer de tudo para me agradar e não adiantava nada. Eu não queria me cuidar e cheguei ao estágio de isolamento social, não queria sair, nem ver as pessoas. Hoje estou bem, gosto muito de frequentar a Unidade de Saúde, muito mais agora do que na fase inicial do tratamento, porque hoje me sinto segura, me sinto acolhida, me sinto uma pessoa melhor”, confidencia M.S. C. R., que está no oitavo mês de uma gestação e é mãe de outros três, dois já na fase da adolescência.
Para melhorar sua auto estima também mudou hábitos. Ela gostava muito de ler, mas absorvia muito do conteúdo. Foi orientada e passou a escrever. Porém, tudo o que escreve, depois queima. “É uma sensação de que alguém te ouviu, de desabafo”, explicou, ao considerar que é difícil conversar. “Não é todo dia que você está preparada para ouvir que “você não se esforça, que você não quer mudar”. Tem dias que a gente ouve e releva, mas tem dias que isso te afunda ainda mais. Por isso, comecei a escrever, mas depois eu queimo, é algo confidencial mesmo”, revelou.
O serviço ofertado pela saúde de Cuiabá que também ajudou muito foi o de auriculoterapia. É gratuito e contribui para o restabelecimento da autoestima. “Ajuda muito e eu gosto, até minha família nota essa diferença quando passo pelo procedimento. Um serviço que muitos acham que só se consegue pagando, graças a Deus a gente tem sem custo”.
A paciente M.F.S.M., 24 anos, também está contente com o resultado do tratamento de auriculoterapia e acolhimento que recebe. Gestante pela segunda vez, teve depressão pós parto do primeiro filho, e na época não havia esse tipo de tratamento no posto de saúde. Agora, graças ao olhar atento da equipe profissional do Posto de Saúde do Dr. Fábio II, que detectou sintomas de depressão e ansiedade, e já iniciou acompanhamento, ela melhorou consideravelmente.
“Muito interessante esse trabalho e a forma como lidam com a gente, me sinto ótima. Antes não tinha tantos serviços, melhorou muito desde que tive a outra gestação. Isso ajuda a melhorar muito a autoestima”, relatou a jovem mãe.
Saber diferenciar
Linikhennia Silveira de Araújo Blank Cassol, enfermeira que atende no PSF Dr. Fábio II, diz que as informações são colhidas na medida em que vão adquirindo confiança nos profissionais. “A partir dos relatos, a equipe passa a ter um olhar diferenciado e acolhedor para essa pessoa que está precisando de um auxílio.
“Tivemos um caso que chegou até nós por meio de uma agente comunitária de saúde, de uma pessoa que já lutava com as últimas forças, e não aceitava ir para outro nível de atendimento (Atenção Secundária). Visitamos e verificamos que se tratava de um caso avançado, já em tentativas de tirar a própria vida, e toda a equipe profissional (médico, enfermeiras) se mobilizou para ajudar. Elaboramos um projeto terapêutico, unindo a medicação, terapias e atividades, a família também foi chamada e ajudou e o resultado surpreendeu. Hoje ela está bem, mudou de bairro, mas continua frequentando o acompanhamento aqui”, disse a enfermeira, ao avaliar que foi um dos casos mais graves já atendidos.
A orientação é de que não seja menosprezado qualquer sintoma em relação à saúde mental. O atendimento e acompanhamento, conforme a gravidade da situação, pode ser realizado por meio dos Caps em Cuiabá, Unidades Básicas de Saúde (UBS), Policlínicas e Centro de Especialidades Médicas (CEM).
Também está disponível na Unidade de Práticas Integrativas e Complementares (URPICS), no Horto Florestal, em Cuiabá, atendimento em auriculoterapia, yoga, reiki, florais, microfisioterapia, Body Talk e roda de terapia integrada.