A criação de uma moeda comum dos países que compõem o bloco dos BRICS é improvável. A avaliação foi feita pelo ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento – Banco do BRICS -, Marcos Troyjo, em conversa com jornalistas durante sua visita a Cuiabá no começo desta semana, para palestrar no encerramento do 18º Circuito Aprosoja.
O anúncio sobre uma moeda comum dos BRICS foi feito no ano passado, com o objetivo de criar um sistema que permita aos países do bloco realizar suas trocas comerciais sem ter que passar pela moeda norte-americana. Porém, nenhuma ação formal para criação da moeda foi oficializada até agora.
Troyjo explicou que a criação de uma moeda comum é um processo desafiante e bastante complexo, que requer um nível significativo de cooperação entre os bancos centrais dos países envolvidos, além de um alinhamento dos objetivos estratégicos dessas nações.
“Para você fazer uma moeda comum, você precisa ter um mundo de trabalho que tenha gente do Banco Central brasileiro conversando com gente do Banco Central chinês, indiano, da Rússia… Essas conversas não estão acontecendo, né?!”, afirmou.
Troyjo destacou que, embora Índia e China sejam as duas maiores economias do BRICS e figurem entre as cinco maiores economias do mundo, elas possuem interesses geopolíticos divergentes.
“A China é a segunda e a indiana é a quinta [maiores economias do mundo]. Apesar de eles terem interesses comuns, como aumentar o estoque de recursos para financiamento de infraestrutura, geopoliticamente eles têm interesses distintos. Já tiveram conflitos na fronteira… Então, imaginar, por exemplo, que os indianos vão trabalhar numa moeda comum com os chineses… não faz sentido isso, não vai acontecer”, explicou.
Troyjo avalia que nem mesmo a China tem interesse na criação da moeda comum, já que a maior parte de seu comércio internacional é feito em dólar e o gigante asiático mantém grandes reservas cambiais na moeda norte-americana.
“Veja o caso da China. Hoje, a China deve ter 4 trilhões de dólares de reserva cambial. A maioria disso está denominado em dólares norte-americanos. Ela tem um gigantesco superávit comercial com seu comércio internacional. Esse comércio está majoritariamente denominado em dólares norte-americanos”, detalhou.
Na visão de Troyjo, a criação de uma moeda comum é algo que surge mais como retórica política do que uma intenção verdadeira de realizar algo.
LIÇÕES DA HISTÓRIA
Troyjo também relembrou o processo histórico que levou o dólar a se tornar a principal moeda de referência global, destacando a demora significativa entre o crescimento econômico dos Estados Unidos e a consolidação do dólar como moeda dominante.
“Do momento em que você tem a ultrapassagem de uma economia pela outra como maior do mundo, até que a moeda desse país se torne referência, demorou quase 100 anos. Então, apesar de todo o crescimento da economia chinesa, vai ser muito difícil, ainda vai demorar bastante tempo, para que você tenha uma alternativa crível, sobretudo como reserva de valor ao dólar”, concluiu