O Shopping Popular de Cuiabá, destruído por um incêndio na madrugada dessa segunda-feira (15), era o maior centro popular de compras do Centro- Oeste. Conhecido como camelódromo e “paraguaizinho”, o shopping foi inaugurado na década de 90 e, atualmente, era fonte de renda para mais de 600 comerciantes e cerca de 3 mil funcionários.
O local tinha uma área de mais de 10 mil m², segundo a Associação Comercial de Cuiabá. Uma das comerciantes que teve a loja destruída foi Sandra Barbosa Machado, de 49 anos, e as quatro irmãs dela, que trabalhavam na região há 29 anos.
Ao g1, Sandra contou que começou a trabalhar no shopping aos 19 anos. Ela prevê um prejuízo de R$ 350 mil.
“Foram muitos dias trabalhosos e sofridos. Ficávamos no meio da rua, pagamos guardas para cuidar das coisas, aí o Rio Cuiabá enchia e perdíamos tudo. O shopping dava um conforto para nós e para os clientes. Fizemos empréstimo esse ano para comprar a mercadoria e construir nossa casa e agora vou ver se temos algum direito”, disse.
Para as comerciantes cuiabanas Juliane Santos, de 35 anos, e Suelen Amorim, de 36 anos, a estimativa do prejuízo é de cerca de R$ 150 mil devido à perda da banca. O quiosque delas ficava no segundo andar do shopping e foi destruído pelo teto da estrutura, que desabou com o calor das chamas.
“Estamos desoladas. Alguns parceiros e amigos estão nos apoiando. Montamos uma vaquinha online para tentar comprar pelo menos as máquinas básicas para recomeçarmos. Nem o shopping e nem nós lojistas tínhamos seguro, então todo prejuízo é por nossa conta”, lamentou.
O Shopping Popular começou como uma espécie de comércio informal formado por famílias afetadas pela economia do final dos anos 80. Atingidas pelo desemprego, elas começaram a ir para as ruas e montar suas barracas, com todos os tipos de produtos.
Em 1992, cerca de 400 camelôs já trabalhavam no centro da cidade com suas barracas e as praças e ruas do centro da cidade eram cada vez mais ocupadas. No mesmo ano, a Prefeitura começou a organização e retirada dos camelôs para novos locais apropriados.
Em abril de 1995, o órgão retirou os camelôs do centro da cidade e colocou no Shopping Popular. Após protestos, confrontos policiais e barracas apreendidas, os camelôs que não foram presos, se regularizaram.
Em 2021, a ampliação do estacionamento, além da praça de alimentação, de 260 pessoas para 1.200 pessoas foi projetada.
Já em maio de 2024, a obra de ampliação do Shopping foi anunciada. Mais de 50 mil m² e um anexo com 7 andares de garagem e mais de mil vagas, além de construção de e três cinemas, um espaço kids e uma academia.
Em novembro de 2023, dois homens foram mortos a tiros dentro do Shopping Popular. Uma das vítimas era dono de uma banca e o outro seria um funcionário. Uma câmera de segurança registrou o momento em que uma das vítimas está parada em pé em frente a uma banca do shopping, quando é atingida e cai. Em seguida, as pessoas que estão em volta começam a correr.
Em dezembro de 2022, dois homens executaram o proprietário de uma banca no Shopping Popular. Na saída, eles entraram em confronto com a cavalaria da Polícia Militar, que patrulhava o entorno do local.
Na troca de tiros, um dos suspeitos ficou ferido e correu até a Rua Carmindo de Campo, onde abraçou uma criança, como refém, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. O segundo suspeito foi preso pela PM.
O incêndio
A fumaça começou a aparecer na área da escada do shopping por volta das 2h26. Imagens registradas por pessoas que transitavam pela região mostram o fogo e a destruição causada pelas chamas. (assista acima)
De acordo com informações iniciais, o vigia do local tentou conter as chamas iniciais, mas não conseguiu e acionou os bombeiros. Na noite de segunda-feira (15), equipes do Corpo de Bombeiros continuavam o combate às chamas.
Segundo a Polícia Civil, o incêndio pode ter começado por meio de uma falha no sistema elétrico do prédio.
O presidente da Associação dos Camelôs, Misael Oliveira Galvão, informou que o local não tinha seguro, pois não conseguiram uma seguradora para fechar o serviço para todos os lojistas.
Em nota, o Governo de Mato Grosso se solidarizou com os empresários e funcionários do Shopping Popular, e informou que todo o efetivo de Cuiabá e Várzea Grande atua no combate ao fogo, e bombeiros no regime de folga foram acionados para reforçar as ações.