“O médico fez o reimplante, mas teve muitos trombos e, por isso, eles deverão remover. Antes, a chance de o implante vingar era de 30%. Agora, está em 1% e, provavelmente, vai secar e precisar ser removido. Por isso, devem fazer enxertos com pele das costas e dos glúteos dela”, declara Eduardo.
O HR informou que o estado de saúde de Débora é estável e que ela está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A assessoria de comunicação da unidade hospitalar não confirmou a necessidade de remoção do implante e afirmou que emitirá um novo boletim de saúde na sexta-feira (16).
“Ela gosta muito de brincar, nunca a vi cabisbaixa. Internada, ela sempre diz que está feliz de estar viva. O que me dá forças é chegar todo dia e vê-la com um sorriso de orelha a orelha. Ela ama a vida e o sonho dela é ser médica. Agora, ela diz que isso fortaleceu ainda mais o desejo. Diz que quando ver pessoas passando algo parecido, vai saber confortar”, diz Eduardo.
A família, agora, pretende transferir a jovem para um hospital nos Estados Unidos, para que Débora seja tratada por uma equipe que acompanhou por videoconferência a cirurgia de reimplante do couro cabeludo dela. O procedimento foi feito pelo cirurgião Jonathan Vidal e durou cerca de sete horas.
“Conversamos com o médico e ele nos disse que fez a cirurgia com ajuda de uma equipe de Houston, no Texas, e que eles querem atendê-la, mas precisamos custear transporte e tratamento. Isso seria o ideal para ela e estamos tentando com o Walmart [supermercado onde aconteceu o acidente], mas eles marcaram uma reunião ontem e não compareceram”, afirma Eduardo.
Segundo Eduardo, Débora precisou ser forte desde muito cedo. Nascida em 29 de fevereiro de 2000, ela foi criada pelos avós, que morreram quando ela ainda era menor de idade. A avó dela faleceu quando a jovem tinha 17 anos. Desde então, ela passou a morar com uma amiga.
Mesmo com as dificuldades, ela foi aprovada no vestibular em administração, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Débora não chegou a finalizar a graduação, porque o sonho de sua vida era a medicina. Ao fazer o curso, no entanto, ela conseguiu o primeiro trabalho, ganhando R$ 380.
“Ela ganhava R$ 380 nessa época e pagava R$ 350 de aluguel. Ficava com R$ 30 no bolso e se alimentava de pipoca e água o mês inteiro. Ela pesava menos de 40 quilos quando nos conhecemos. Ela parece bem cuidada, porque é muito linda, mas é muito simples, sofreu muito na vida e, agora, está passando por mais essa”, declara Eduardo.
Atualmente, Débora trabalha como professora de inglês num curso localizado no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife. No local, ela é chamada de “Tia Rapunzel”, por causa dos longos cabelos.
Internada na UTI, Débora se mantém consciente de seu próprio estado de saúde e tem fé no tratamento. Ela mora no bairro do Engenho do Meio, na Zona Oeste do Recife, com três gatos. Segundo Eduardo, os mascotes são uma prioridade na vida da jovem, mesmo depois do acidente.
“Ela fala muito para levar comida para os três gatinhos dela e diz que está torcendo para ser transferida. Ela tem a casa com os gatos, mas dorme toda noite na minha casa. Ela está com os olhos abertos, já come feijão batido no liquidificador e amanhã [sexta] vão tentar fazer ela andar, com ajuda de um fisioterapeuta”, diz Eduardo.
O acidente aconteceu na pista de corrida de kart localizada no estacionamento do Walmart, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. A pista, que foi interditada pelo Procon na segunda (12), passou por perícia do Instituto de Criminalística na terça (13).
O Procon informou que um representante da Adrenalina Kart Racing “verbalizou” que o estabelecimento não tinha os documentos necessários para funcionar. Eduardo Tumajan criticou a empresa e disse que precisou, ele mesmo, levar a namorada para o hospital.
“Os caras não fizeram nada. Ficaram chorando e rezando. Passei dez minutos correndo, dizendo ‘mainha, matei Débora, eu que trouxe ela pra cá’ e aí um senhor se ofereceu para nos levar. A empresa, que está completamente irregular, nem tinha alvará de funcionamento, contratou um criminalista”, afirma Eduardo.
Logo depois do acidente, segundo o namorado de Débora, a jovem se preocupou com a própria vida e, também, com as sequelas que teria por causa do incidente.
“Ela tem coração de médico, é muito forte e não se abala. Ela não se choca como eu. Como ela é muito simples, sempre brincava que não tinha dinheiro, mas que era linda. Quando vínhamos para o hospital ela olhou para mim, toda ensanguentada, e disse ‘amor, eu só tinha minha beleza, e nem isso eu tenho mais. Você ainda vai me amar?’ Isso, para mim, foi o que mais doeu”, declara.
No dia do acidente, a empresa e o supermercado Walmart informaram que estavam dando todo o apoio para Debora.
O caso de Débora está sendo investigado pelo delegado Alfredo Jorge, da Delegacia de Boa Viagem. Segundo ele, um Boletim de Ocorrência foi registrado na segunda-feira (12), e, no mesmo dia, foram solicitadas perícias no local e na vítima e imagens de câmeras de segurança.
“Na terça-feira (13), foram ouvidos o namorado e a sogra da vítima e um rapaz que ofereceu o carro dele para prestar socorro. Hoje [quinta], foram ouvidos cinco funcionários e está agendado para amanhã o interrogatório do dono da empresa e do tio dele, responsável pelo local. Na segunda-feira (19), foi agendada a ouvida de outro funcionário, porque ele está em outra cidade”, afirma o delegado.
Durante a perícia feita pelo Instituto de Criminalística, foram analisadas as condições da pista e constatadas manchas de sangue no local, segundo o perito Rogério Dantas. A equipe do IC encontrou fios de cabelo e sangue no carrinho.
O advogado da empresa Adrenalina Kart Racing, Carlos Arthur Ferrão Júnior, acompanhou a perícia a distância e apresentou o documento com regras da atividade que é assinado pelos participantes antes de entrarem na pista. Segundo ele, todos os procedimentos de segurança foram tomados.
Fonte: G1