Deborah está grávida de dois meses e os médicos fazem exames para saber como está o bebê. Ela sofreu edemas e queimaduras nas vias respiratórias ao inalar fumaça. Para Douglas, a situação é “trágica”.
“Pessoa vindo do trabalho, descansar, gestante, trabalhou o dia todo, acontece uma coisa dessas, é dificil, é complicado”, lamentou.
Também em estado grave, o cobrador de ônibus Osmar da Rosa, de 59 anos, voltava do trabalho, conforme a família. “Ele inalou muita fumaça, inchou a gargante e deu dificuldade para respirar”, relata Neusa Josiane Rodrigues, sobrinha de Osmar, internado no Hospital de Pronto Socorro de Canoas. “Eu peço que Deus ajude e ele melhore. Estado dele é complicado”, diz a irmã dele, Maria Rodrigues.
Osmar é cobrador de outra empresa de ônibus. Segundo a família, está no ramo há 35 anos. Mora sozinho em Canoas, enquanto o restante dos familiares está em Cerro Branco, na Região Central do RS.
Além de Deborah e Osmar, outras duas pessoas seguiam hospitalizadas, mas sem gravidade. até a noite de terça-feira, conforme a prefeitura de Canoas.
Por volta das meia-noite, quatro homens encapuzados chegaram em um Palio branco ao terminal Mathias Velho, onde o ônibus estava estacionado. Um deles entrou no coletivo, retirou apenas o motorista e jogou gasolina no corredor.
Logo depois, colocou fogo no ônibus onde estavam cerca de 10 pessoas. Desesperadas para sair, algumas quebraram as janelas e acabaram se cortando. Outras enfrentaram as chamas para escapar, e se queimaram.
A polícia busca os responsáveis pelo ataque e pretende localizá-los até o final da noite, para caracterizar o flagrante. A suspeita é que entre dois e cinco homens tenham participado da ação. Um alerta foi emitido para as polícias de todo o estado.
Dois dos suspeitos foram interrogados. Outros estão sendo procurados principalmente em Canoas e em cidades da Região Metropolitana. As primeiras investigações mostram que eles agiram por conta própria, sem o consentimento de criminosos ligados às quadrilhas do tráfico de drogas, comenta o diretor do 2º Departamento de Polícia Metropolitana, Mario Souza.
“É um crime simbólico. Geralmente esse modus operandi é realizado por crime organizado em reações a ações estatais e ações mais graves entre facções”. Essa hipótese é descartada, diz ele.
“Nós verificamos todas as prisões da última semana, todos atos da polícia, do estado, entre facções, entre quadrilhas, e nada apontava a uma possível retaliação. Então eu ainda aposto nessa possibilidade de um ato que saiu da curva, saiu da ideia de comando e foi realizado por pessoas que tentaram matar outras, que serão capturadas em breve e irão responder pelo que fizeram”, disse.
A Vicasa, proprietária do ônibus, informou que acompanha as investigações e presta apoio às vítimas.