A tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza Dechamps, acusada pela morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos, vai ser ouvida nessa quinta-feira (12), às 14h, na Vara Criminal da Justiça Militar de Cuiabá.
Segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), a tenente Izadora Ledur de Souza Dechamps, que era a instrutora do curso, usou de meios abusivos de natureza física e de natureza mental. A Justiça investiga se houve abusos por parte dos instrutores do curso de formação.
O G1 não conseguiu contato com a defesa da tenente. Em novembro do ano passado, durante audiência, a defesa de Ledur afirmou à reportagem que só vai se manifestar depois do depoimento da tenente.
Atualmente, ela desempenha funções administrativas. Desde a morte de Rodrigo, em novembro de 2016, Ledur apresentou atestados médicos de forma contínua.
Foto: Antônio Claro/Arquivo pessoal
Rodrigo morreu no dia 15 de novembro de 2016, após passar mal em uma aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, na qual a tenente Izadora Ledur atuava como instrutora.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), Rodrigo demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre e outros exercícios.
Ainda segundo o órgão, depoimentos durante a investigação apontam que ele foi submetido a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude, segundo o MPE, teria sido a forma utilizada pela tenente para punir o aluno pelo mal desempenho.
Durante a realização das aulas, Rodrigo queixou-se de dor de cabeça. Após a travessia a nado na lagoa, ele informou ao instrutor que não conseguiria terminar a aula.
Em seguida, segundo os bombeiros, ele foi liberado, retornou ao batalhão e se apresentou à coordenação do curso para relatar o problema de saúde. O jovem foi encaminhado a uma unidade de saúde e sofreu convulsões.
Em mensagem enviada para a mãe, Rodrigo disse que estava com medo
Antes do treinamento, o jovem conversou com a mãe dele por um aplicativo de conversas e disse que estava com medo do que poderia acontecer.
A tenente está pegando no meu pé. Hoje ela vai ta lá, por isso fico com medo, diz trecho da conversa.
Horas depois, Rodrigo voltou a falar com a mãe e mandou a última mensagem antes de ser internado em coma.
Não consegui. Estou mal. Vou para a coordenação, diz mensagem.
A tenente responde criminalmente pela morte do aluno e ficou monitorada por tornozeleira eletrônica por três meses. No entanto, em outubro de 2017, conseguiu na Justiça o direito de retirar o equipamento.
A denúncia do MPE, diz que Ledur utilizou meios impróprios durante o treinamento com o aluno como “caldos” e afogamentos. Além disso, ela teria ameaçado desligar Rodrigo do curso.
No dia 3 de novembro do ano passado, duas testemunhas de defesa de Ledur, foram ouvidas pelo juiz da Vara Criminal da Justiça Militar Marcos Faleiros.
A primeira testemunha ouvida foi o médico legista Dionísio Andreoni, que assinou o laudo que atesta que um Acidente Vascular Cerebral (AVC) foi a causa da morte de Rodrigo.
O médico disse que é provável que Rodrigo já tivesse má formação no cérebro, o que teria causado o AVC.
Em contrapartida, a mãe de Rodrigo, Jane Claro, afirmou que o filho era saudável e nenhum exame anterior detectou a má formação.
Também foi ouvido durante a audiência o capitão do Corpo de Bombeiros Janislei Teodoro Silva. Ele foi comandante de pelotão da turma anterior à de Rodrigo onde um aluno desistiu do curso alegando abuso nos treinamentos comandados pela tenente Ledur.
O capitão afirmou durante o depoimento que nunca presenciou práticas abusivas por parte da tenente.
Texto: G1 Mato Grosso