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Biólogo registra onça-pintada se alimentando de jacaré morto no Pantanal e explica comportamento ‘oportunista’; vídeo

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Uma pesquisa global realizada pela doutora em pesquisa que estuda a relação entre humanos e animais, Eveline Baptistella, da Universidade do Estado Mato Grosso (Unemat), conta que os animais silvestres estão se adaptando à vida nas cidades e até mudando os comportamentos e culturas próprias, para conseguirem sobreviver em locais sem floresta e sem água em abundância.

“Os animais estão se tornando submissos aos humanos. Por agora, isso não tem problema, porque eles ficam em um canto e os humanos em outro. Mas, quando envolve um grande felino entrando em casas e quintais, aí a coisa muda de figura. O primeiro problema é como construir uma mudança cultural para que possamos viver em paz com esses animais”, disse.

Eveline contou que existe a probabilidade de as coisas piorarem e ter cada vez mais registros de grandes tragédias climáticas, já que esses animais buscam abrigo nas cidades por causa de alimento. Segundo ela, isso ocorre pela redução de área verde.

“Esses bichos já estão vivendo nas cidades. Há pequenos times vivendo em vários bairros metropolitanos. O maior problema disso é que as pessoas querem sempre tocar e domesticar esses animais como forma de posse. A verdade é que as pessoas não estão preparadas para conviver com animais silvestres”, explicou.

A pesquisadora ainda ressaltou a importância de os humanos pararem de encarar animais silvestres como ‘bichinhos de estimação’, já que o instinto deles não permite essa domesticação.

Conforme o estudo elaborado na Unemat, o que esses animais estão fazendo ao se adaptarem nas cidades é chamado de ‘autodomesticação’ — Foto: Reprodução

Conforme o estudo elaborado na Unemat, o que esses animais estão fazendo ao se adaptarem nas cidades é chamado de ‘autodomesticação’ — Foto: Reprodução

Conforme o estudo elaborado na Unemat, o que esses animais estão fazendo ao se adaptarem nas cidades é chamado de ‘autodomesticação’, que refere-se ao processo pelo qual uma espécie animal, ao interagir frequentemente com seres humanos ou com ambientes modificados por humanos, passa por mudanças genéticas e comportamentais que a tornam mais tolerante à presença humana e mais adaptada a viver em ambientes modificados pelo homem, o que acontece com cães e gatos, por exemplo.

De acordo com a pesquisadora, o estudo, além de ter suporte da Unemat, é desenvolvido com a Global Resort Network, que é uma associação mundial, com vários outros especialistas que lutam pela mesma causa: conscientizar a população sobre a problemática de se haver animais selvagens convivendo em ambientes urbanos.

“Esse estudo começou em 2012. Inicialmente, era um estudo sobre as relações entre as espécies na cidade. Ao andar pela cidade e fazer uma pesquisa, acabei encontrando muitos animais silvestres, o que não era esperado. Eu esperava encontrar animais domésticos, mas, com o tempo, a pesquisa se direcionou para os animais silvestres e, ao longo dos anos, foquei nisso porque é uma problemática que só tende a se agravar”, acrescentou.

🐆Onças são ‘gatinhos grandões’?

O estudo aborda ainda que muitas pessoas tendem a encarar as onças e outros felinos selvagens como ‘gatinhos grandões’, devido à aparência fofa e os hábitos semelhantes aos dos pets que criam em casa, como brincar, pular e miarem, principalmente quando são filhotes. No entanto, a pesquisa informa que a possibilidade de onças vivendo entre humanos não é nada meiga, pelo contrário, é bem perigosa e colocaria ambos os lados em risco.

“É difícil imaginar um futuro onde grandes felinos sejam completamente domesticados, pois não seria uma vida boa para eles. Precisamos trabalhar para que esses animais tenham uma vida segura, com o mínimo de interação possível com humanos. Isso envolve mudanças na sociedade, na política e na ciência, para reduzir conflitos e garantir a segurança de ambos”, ressaltou a pesquisadora.

A interação frequente entre humanos e animais selvagens, incluindo grandes felinos, aumenta o risco de zoonoses — Foto: Ailton Lara

A interação frequente entre humanos e animais selvagens, incluindo grandes felinos, aumenta o risco de zoonoses — Foto: Ailton Lara

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De acordo com a pesquisa norte-americana Transmissão reversa de doenças zoonóticas (zooantroponose): uma revisão sistemática de ameaças biológicas humanas raramente documentadas aos animais, a interação frequente entre humanos e animais selvagens, incluindo grandes felinos, aumenta o risco de zoonoses – doenças que podem ser transmitidas de animais para humanos, como a raiva e a leptospirose.

Além disso, o estresse causado pela presença humana pode levar a comportamentos agressivos nos animais, colocando em risco tanto as pessoas quanto os próprios felinos. A pesquisa também indica que a presença de humanos altera os hábitos naturais desses animais, impactando negativamente nas suas dietas, padrões de atividade e reprodução. Por isso, é crucial implementar estratégias de conservação que mantenham os habitats naturais intocados e promovam a coexistência harmoniosa, minimizando o contato direto entre humanos e animais selvagens.

📊Indíce de resgates no estado

Segundo o Batalhão de Polícia Militar de Proteção Animal (BPMPA), somente neste ano, foram resgatados 274 animais silvestres em Mato Grosso. Em 2023, 1,1 mil animais foram resgatados no estado.

O balanço do batalhão também inclui a quantidade de animais que foram soltos na natureza em 2023 e neste ano, sendo 448 e 58, respectivamente.

De acordo com a capitã do batalhão, Gislaine Pazeto, todos os dias a unidade atende a solicitações de resgate de animais silvestres. Entre as espécies mais comuns encontradas em perímetros urbanos e que mais necessitam de resgate estão serpentes, capivaras e gambás.

Cerca de 60% dos animais silvestres resgatados em Mato Grosso pertencem a espécies ameaçadas de extinção, como macaco-prego, lobo-guará, cachorro-vinagre, gato-dos-pampas, onça-parda e onça-pintada, conforme informações do BPMPA. Além disso, 10% delas são características do Pantanal.

Cachorro-vinagre (Speothos venaticus) — Foto: Pedro Alonso / iNaturalist

Cachorro-vinagre (Speothos venaticus) — Foto: Pedro Alonso / iNaturalist

Nos últimos cinco anos, mais de 5,4 mil resgates foram registrados no estado, resultando na morte de 814 animais. Entre 2018 e 2022, houve um aumento de 29% no número de resgates, e até fevereiro do ano passado, 184 ocorrências foram registradas pelo Recinto de Animais Silvestres da corporação, com a maioria dos casos sendo decorrentes de atropelamentos.

Segundo o BPMPA, os animais resgatados são submetidos à triagem e passam por avaliação clínica, onde ficam em observação e recebem tratamento. Posteriormente, se apresentarem condições de sobrevivência, são devolvidos à natureza.

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⛑️Resgates

Nesta terça-feira (18), um filhote de anta foi resgatado perdido em uma plantação de milho no município de Primavera do Leste, a 239 km de Cuiabá, nesta terça-feira (18). Um vídeo mostra o filhote calmo, resgatado em um carro.

O corpo de bombeiros do município disse que o filhote permanece sob cuidados das equipes já que está em fase de amamentação e as equipes procuram por um local ideal para o animal.

Outro caso é o gato-palheiro Lion, que foi resgatado em 2022 em Sorriso, a 420 km de Cuiabá. Ele deve ganhar uma namorada, após ser levado para um zoológico de Sorocaba (SP), segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT).

A espécie é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como “quase ameaçadas” internacionalmente. Já no Brasil, o ICMBio-MMA classifica como ameaçada de extinção, na categoria “vulnerável”.

Lion foi encontrado ainda filhote, sem a mãe e com poucas chances de sobrevivência. Na época, o animal silvestre foi resgatado e levado para Cuiabá, onde ficou sob a tutela de uma cuidadora.

Lion foi resgatado há 2 anos e levado para SP há 30 dias — Foto: Danny Moraes-Sema/MT

Lion foi resgatado há 2 anos e levado para SP há 30 dias — Foto: Danny Moraes-Sema/MT

Em Marcelândia, a 641 km de Cuiabá, uma onça pintada, que foi resgatada após ser atropelada às margens da Rodovia MT-320, morreu no dia 28 de maio. Segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT), exames veterinários também mostraram que o animal tinha marcas de tiros pelo corpo.

Segundo a Sema-MT, o animal foi recolhido e levado em estado grave para uma clínica especializada em Sorriso. O animal passou por uma série de exames, que concluíram que o animal, além de ter sofrido o atropelamento, foi baleado.

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