A ocorrência de janelas de cultivo entre as culturas da soja/trigo contribui para a manutenção das populações de plantas daninhas, incidência de pragas e doenças no sistema de produção agrícola. Visando otimizar o uso da terra nesse período, espécies de cobertura podem ser cultivadas durante o vazio outonal, como uma alternativa ao pousio, possibilitando a cobertura do solo, ciclagem de nutrientes, supressão de plantas daninhas e quebra do ciclo de pragas e doenças, entre outros benefícios.
Plantas de cobertura
Espécies como o nabo-forrageiro (figura 1) contribuem para o manejo da compactação do solo, além de realizar a ciclagem de nutrientes no solo. Quando inserido no sistema de produção, durante o vazio outonal, antecedendo o trigo, o cultivo do nabo-forrageiro pode inclusive possibilitar o aumento da produtividade do trigo, conforme observado por Kochhann et al. (2003).
Figura 1. Raiz de nabo-forrageiro.
Dentre os nutrientes liberados pelos resíduos culturas das plantas de cobertura, o Nitrogênio é um dos principais nutrientes a impactar a cultura em sucessão. Por ser considerada uma cultura responsiva à adubação nitrogenada, o trigo cultivado em sucessão a plantas de cobertura, especialmente leguminosas, tende a apresentar maior produtividade em comparação ao trigo cultivado após pousio.
Segundo Tiecher (2016) , dependendo da espécie cultivada no período outonal, quantidades superiores a 200 kg ha-1 de nitrogênio podem ser acumuladas nos resíduos culturais, e posteriormente decomposto, mineralizado e disponibilizado para a cultura em sucessão. Não só o nitrogênio acumulado, como os demais nutrientes ciclados pelas culturas de cobertura contribuem para o aumento da produtividade e sustentabilidade da cultura sucessora.
Tabela 1. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) da parte aérea das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.
Produtividade do trigo
Avaliando diferentes espécies de cobertura para o período outonal quanto ao seu potencial em recuperar atributos físicos do solo, produção de massa seca, e influenciar a produção da cultura sucessora, Ledur (2017) observou que o trigo cultivado após plantas de cobertura apresentou maior produtividade comparado do trigo após pousio, independentemente da planta de cobertura cultivada, principalmente quando associada a adubação nitrogenada ao manejo do trigo.
Conforme resultados obtidos por Ledur (2017), mesmo sem fornecer nitrogênio ao trigo, a maioria dos tratamentos contendo plantas de cobertura antecedendo a cultura do trigo apresentam maiores produtividades, demonstrando a importante contribuição do cultivo de espécies de cobertura durante o vazio outonal para a produtividade do trigo em sucessão.
Tabela 2. Produtividade do trigo cultivado após diferentes culturas de cobertura durante o vazio outonal.
Além dos benefícios indiretos das plantas de cobertura, com base nos aspectos observados, fica evidente a contribuição do cultivo de plantas de cobertura durante o vazio outonal para a produtividade do trigo em sucessão, demonstrando que as plantas de cobertura são importantes ferramentas no manejo e sustentabilidade das culturas agrícolas.
Veja mais: Plantas de cobertura e os benefícios além da cobertura do solo
Referências:
KOCHHANN, R. A. et al. RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO CULTIVADO EM SEQUÊNCIA AO ADUBO VERDE NABO FORRAGEIRO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 116, 2003. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co116.pdf >, acesso em: 01/04/2024.
LEDUR, C. L. USO DE PLANTAS DE COBERTURA NO PERÍODO OUTONAL E SEU EFEITO SOBRE OS ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO E A PRODUTIVIDADE DO TRIGO. Universidade Federal da Fronteira Sul, Trabalho de Conclusão de Curso, 2017. Disponível em: < https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/1884/1/LEDUR.pdf >, acesso em: 10/04/2024.
TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/handle/10183/149123 >, acesso em: 10/04/2024.