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“Era para eu estar morto e não o Rodrigo Claro”, diz aluno contra tenente Ledur denunciada por tortura

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“Eu fui torturado, era para eu estar morto. Não era para o Rodrigo (Claro) ter morrido. Era para mim (sic) ter morrido no mês de março daquele ano”. Esta é a frase do aluno Maurício Júnior dos Santos durante a audiência de instrução contra a tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza Dechamps, que aconteceu na segunda-feira (18). Ledur foi denunciada pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) pelo crime de tortura contra o aluno e pode ir a novo julgamento.

 

 

Entre os meses de janeiro e fevereiro de 2016, durante o treinamento de salvamento aquático em ambiente natural do 15º Curso de Formação de Soldado do Corpo de Bombeiros, realizado na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, Ledur submeteu o aluno Maurício a intenso sofrimento físico e mental, como forma de lhe aplicar castigo pessoal.

 

 

Apesar de apresentar bom condicionamento físico, bem como ter sido aprovado em todas as fases do concurso público para compor o quadro de servidores do Corpo de Bombeiros, incluindo a etapa TAF (teste de aptidão física), Maurício demonstrou dificuldades na execução das atividades aquáticas, o que era visível a todos os alunos e instrutores.

 

 

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“Passei por aquele vexame todo, para que me dizer aquilo que ela me dizia. Eu só não morri ali porque no dia a Ledur era a instrutora da disciplina e não a comandante do pelotão. No dia que ela me afogou até onde eu fiquei sabendo foi que o comandante do meu pelotão  falou para ela parar de me afogar. Foi isso que me passaram. Eu fui torturado, era para eu estar morto. Não era para o Rodrigo (Claro) ter morrido. Era para mim ter morrido no mês de março daquele ano.”

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Durante o treinamento, Maurício precisou percorrer 40 metros na lagoa e, em certo momento, ele começou a sentir câimbras. O rapaz chegou a receber uma boia ecológica de um tenente. Porém, Ledur teria determinado que os demais alunos seguissem com a travessia da lagoa e abandonassem o aluno.

 

 

Após ter recebido alguns “caldos”, Maurício começou a gritar por socorro e segurou os braços da tenente Ledur. Neste momento, Ledur teria dito para o aluno: “você está louco? Aluno encostando em oficial”. Segundo Maurício, Ledur ordenou para que ele passasse uma corda envolta do pescoço antes de começar a afogá-lo.

 

 

Em seguida, o aluno acabou perdendo a consciência e acordou somente quando estava às margens da lagoa. “Começando a fazer a travessia, começou a me dar caimbrã, uma atrás da outra, mas eu fui nadando. Eu disse “não, eu não aguento mais”. Ele (tenente) chegou a me jogar uma boia para eu fazer a travessia. Ela (Ledur) mandou todo mundo se afastar e me chamou até ela e começou a me xingar. Eu pensei “é agora que eu ia morrer”. Ela disse “agora tu pega essa corda e passa por debaixo do seu pescoço” e eu passei, foi quando ela começou a me afogar. Uma hora eu encostei nela e disse “Ledur, pela amor de Deus para, para, você vai me matar”, relatou o aluno.

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Ainda na audiência de instrução, Maurício afirmou que a “promessa” de Ledur é de que ele “seria pego” até o final do curso.

 

 

“Eu ia ser morto no “campo final”. Essa era a promessa e parece que se confirmou com o Rodrigo Claro naquele ano. Ela só dizia que lá ela ia me pegar, que na lagoa eu seria pego só que ela nunca usou essa palavra mas dizia que no campo final eu não iria escapar. Qual foi a instrução que eu recebi para salvar uma vida? nenhuma”, disse Maurício.

 

 

CASO RODRIGO CLARO

 

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A tortura contra Rodrigo, que morreu, ocorreu durante um treino de instrução também na Lagoa Trevisan, na Capital, em novembro de 2016. O jovem fazia aula de instrução de salvamento quando passou mal. Rodrigo ficou em coma na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) de um hospital particular de Cuiabá e morreu cinco dias depois.

 

 

Desde a morte do aluno, a oficial foi afastada dos trabalhos e apresentou vários atestados médicos alegando problemas psicológicos. No entanto, em 2019, Ledur retomou ao trabalho no setor administrativo da corporação. Em 2021, Ledur foi condenada, pelo crime de mau-tratos, a um ano de detenção, pena cumprida em regime aberto.

 

 

Entretanto, a defesa da oficial ainda recorre na Justiça para que Ledur seja absolvida.

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