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Representante do MinC em MT destaca luta pela valorização da cultura

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Nomeada recentemente em cargo de representação do Ministério da Cultura (Minc) em Mato Grosso, a socióloga Lígia Viana da Silva afirmou que buscará a valorização dos profissionais da cultura no estado.  

Professora de sociologia, Viana é militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e uma referência na luta pela cultura Hip Hop no estado. Ao GAZETA DIGITAL, a educadora celebrou a nomeação para a coordenação do Escritório Estadual em Mato Grosso do Ministério da Cultura.  

 

Viana apontou que o setor sofreu desmonte ao longo dos últimos dois governos. Contudo, para a socióloga, ele voltará a crescer a partir de políticas públicas puxadas pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).  

 

Em entrevista, a socióloga explicou que a descentralização das discussões sobre a cultura por meio dos escritórios estaduais é uma estratégia de tornar o setor menos concentrado em regiões tradicionalmente estabelecidas.  

  

GD – Professora, a senhora é reconhecidamente uma militante do movimento Hip Hop aqui em Mato Grosso e gestora de projetos sociais. Recentemente, foi nomeada para comandar a Coordenadoria de Articulação e Governança da Secretaria dos Comitês de Cultura do Ministério da Cultura. Poderia detalhar quais são as atribuições desta função?  

 

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Lígia Viana – O Escritório Estadual MinC é a institucionalização do MinC no Estado, bem como uma base de apoio e construção oficial, para atender as demandas diversas da cultura, sejam políticas ou técnicas. Entendemos esse espaço como a voz entre os entes federados, seja a voz de Mato Grosso no governo federal ou como a voz do MinC em Mato Grosso. 

 

GD – Qual sua perspectiva sobre o tratamento dado à cultura nos últimos anos no país? Na sua opinião, qual o impacto que podemos esperar para a cultura sob a nova gestão federal?

 

Lígia Viana – Nos governos pós-golpe, tivemos o desmantelamento da cultura, censura, o fim do Ministério da Cultura. O que estava em curso era o apagamento da política cultural brasileira, era um governo que via a cultura como inimiga, queria ela sem perspectivas ou força social.

 

No governo Lula, com a ministra Margareth Menezes, a cultura é colocada na centralidade do governo, buscando a reconstrução de forma sistêmica e organizada, retomada do MinC com diversos investimentos e enxergando a importância das ações afirmativas, com estratégia de fortalecer e organizar na perspectiva do Sistema Nacional de Cultura (SNC) via entes federados com o CPF da Cultura, e via diálogo com as conferências de cultura, o que está na pauta no segundo semestre deste ano. Além dessas ações imediatas, vemos um governo preocupado na valorização da classe trabalhadora da cultura, com formações e debates na perspectiva da formação e regulamentação dos trabalhadores da cultura.

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Estamos vendo uma proposta de reconstrução com foco na organização e difusão da importância da cultura, seja na macro e na micro política. E vale destacar que todas essas ações são fundamentais para que a política cultural seja raiz e se multiplique nesta perspectiva de valorização e fruição do fazer cultural no centro das narrativas da sociedade brasileira.  

 

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GD – O Brasil é um dos países mais ricos em cultura, mas, historicamente, a representação do povo brasileiro neste segmento fica concentrada nas produções do Sul e Sudeste. A senhora crê que a sua nomeação movimenta a balança no sentido contrário?

 

Lígia Viana – Acho que a nomeação nesta função para Mato Grosso é um momento de resistência, alegria e possibilidades. Temos que ocupar esse espaço e fazer o que se promete e mais um pouco.

 

Quem acompanhava o governo do PT antes do golpe sabe que esses espaços estavam sendo construídos além dos grandes centros. Antes, essas representações eram por regiões do Brasil, Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Foram importantes essas experiências para que hoje a gente avançasse. Hoje, nesse novo governo se entendeu a importância da voz do MinC pelo Brasil afora, e avançamos com os escritórios estaduais em todos os estados brasileiros, que vem também com a formação dos comitês de cultura (sociedade civil organizada e coletivos) para somar nessa rede MinC. Acho que o objetivo é valorização da cultura e seus trabalhadores, mas também mostrar os impactos de uma cultura viva e pulsante na sociedade. Precisamos pensar na cultura como esse espaço de sobrevivência, de acolhimento, de bem viver, de sustentabilidade, do giro econômico, da criticidade como narrativa, etc.  

 

GD – Dentro das suas ocupações e possibilidades de articulação, é possível facilitar a transferência de recursos para projetos de cultura aqui para Mato Grosso?

 

Lígia Viana – Seremos a voz do estado de Mato Grosso. Acho que uma de nossas funções é acolher as demandas da cultura mato-grossense e lutar por elas. As políticas públicas para a cultura devem e são nossa responsabilidade. Para sempre pensar nela também com investimento, com formações e valorização da classe trabalhadora da cultura. Acho que como é uma metodologia nova no MinC, vamos aprender fazendo e conforme as possibilidades, vamos construindo pontes e criando relações que serão importantes para a cultura mato-grossense.  

 

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GD – Não raramente, acompanhamos diversos governos anunciarem pacotes e programas para segmentos específicos de gestão. Podemos esperar algo do tipo sob a gestão Lula? Quais são os desenhos traçados pelo Ministério da Cultura neste primeiro semestre?

 

Lígia Viana – Neste primeiro semestre, acho que o fundamental foi a recriação do Ministério da Cultura, e de forma simbólica o ato de tomada de posse do MinC. Destaco a importância de uma mulher negra e da periferia à frente deste processo. Nossa ministra tem trabalho cultural de base, pensando no social, mas também no fazer cultural. Isso já mostra para gente que tem um caminho de aprofundamento e responsabilidade. E toda sua política institucional funcionando a todo vapor com a Funarte, Iphan, Ibran, economia criativa, CNPC, conferências, as leis Paulo Gustavo (que gerou diversas audiências públicas e debates) e Aldir Blanc 2.

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O que vemos é um governo preocupado em fortalecer o Sistema Nacional de Cultura, com viés organizativo e a cultura forte em todos os entes federados.  

 

GD – Apesar de esforços de diversos setores, Mato Grosso não é um estado reconhecido pela produção cultural em relação a outras unidades federativas. Para a senhora, quais são os principais entraves que limitam esse crescimento do setor aqui no estado?  

 

Lígia Viana – Acho que as conferências de cultura irão nos pautar sobre nossa realidade, porque vamos ter as etapas municipais, estaduais e depois nacional. Então, será um momento muito importante para pensar nossa realidade cultural em Mato Grosso. Creio que a partir dessas redes de conferências e diálogos vamos poder ter indicadores para nos nortear de forma mais atual sobre nossa produção cultural. Um dos encaminhamentos das conferências são a colheita de propostas para o plano de trabalho da cultura mato-grossense. Então, é muito importante que todas as pessoas trabalhadoras da cultura participem como também a população acompanhar esse momento importante de debate da cultura brasileira.  

 

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GD – Para além dos investimentos, outro ponto que muitas vezes impacta na produção cultural está ligado ao acesso da população aos editais. Isso porque há produtores culturais que “esbarram” na conquista de recursos por não conseguirem se habilitar de forma correta aos seletivos. Como reverter essa situação e tornar esses mecanismos de seleção mais acessíveis?

 

Lígia Viana – Vemos que a Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc vieram com essa preocupação que é atender a todas as pessoas. Então, as propostas têm pensado nas realidades diversas da cultura, com ações afirmativas para atender mulheres, LGBTQIAP+, negros, PCDs, culturas tradicionais, cultura originária, periferias, entre outros. Também tem a proposição de formações nessa perspectiva de entender as burocracias e os trâmites desses processos. Nosso grande desafio é fazer chegar em todos os cantos, entendemos que essa também é uma das funções dos escritórios estaduais, que é pautar as diversas realidades dos estados e buscar soluções para atender nossa realidade.

 

 

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Lucas do Rio Verde

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