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Sertanejos explodem com uso de ritmo latino

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Há mais em comum entre Zé Neto e Cristiano, Henrique e Juliano, Marília Mendonça e Gusttavo Lima do que o fato de serem bem-sucedidos exemplares do sertanejo. Todos aderiram recentemente à influência de bachata, ritmo latino derivado do bolero que virou queridinho entre artistas no topo da lista de mais ouvidos do Brasil.

Está, por exemplo, na atual música mais ouvida do Brasil no YouTube: “Notificação preferida”, de Zé Neto e Cristiano.

Para reconhecer a batida, é preciso prestar atenção na percussão marcada. Ela vem do bongô, instrumento com dois pequenos tambores unidos, e da güira, cilindro de metal que produz um som mais sutil. “A bachata é um ritmo dançante, mas não é rápido. Ela passa certa sensualidade, uma malícia. O sertanejo também tem isso, por isso encaixa tão bem. Com a combinação certa, fica perfeita para dançar. E também pode ser triste, a depender da letra.”

A explicação acima é de Eduardo Pepato, produtor que trabalha com Marília Mendonça. “Todo o projeto dela é em cima dessa percussão”, diz. É possível identificar influência clara de bachata em músicas como “Infiel”, “Amante não tem lar”, “Eu sei de cor” e a nova da cantora, “Ciumeira”.

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O estilo surgiu na década de 1950, marginalizado em cabarés da República Dominicana. No Brasil, seus primeiros registros no sertanejo são de meados de 2010, ano em que Zezé di Camargo e Luciano lançaram “Eres todos los extremos”, cantada em espanhol.

A faixa foi produzida pelo uruguaio Augusto Cabrera, um dos mais procurados por artistas brasileiros interessados em referências latinas. “Naquela época, pouca gente aceitava [esse tipo de referência] porque era muito diferente do que se fazia no Brasil. Os artistas curtiam muito, mas as rádios e gravadoras não estavam na vibe”, lembra.

O produtor, que também trabalhou o gênero com Eduardo Costa, Zé Felipe e Gusttavo Lima, explica que o movimento é anterior ao da música urbana latina – gênero que inclui o reggaeton, fenômeno no ano passado. A partir dos anos 80, porém, a bachata acabou “engolida” por esses ritmos derivados do Panamá, Porto Rico e Caribe. Até Romeo Santos e Prince Royce, que já foram considerados rei e príncipe da bachata (e curiosamente são americanos), se renderam à música urbana.

Mesmo assim, ela tem mais chances de durar, ao menos no Brasil, na opinião de Pepato. “O reggaeton foi uma fase, que passou. A influência de bachata é mais perene, ainda deve continuar na música por muito tempo”, avalia.

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Um dos pontos que contam a favor é o bom relacionamento entre o gênero dominicano e sons que correm no “sangue do povo” brasileiro, aponta Cabrera. “A essência é muito parecida com a do sertanejo sofrência”, diz. E continua: “Ela fala muito sobre sofrimento, sobre beber para esquecer. E o jeito de cantar é bem ligado ao povo, não é chique. Para vários países, a bachata é como se fosse o ritmo da sofrência.”

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“Me pedem bastante músicas com um pouquinho de bachata e um pouquinho de arrocha”, acrescenta o produtor. Ele lembra que, no Brasil, misturado a outros estilos, o gênero chega bem diluído. “O que fazem aqui é colocar uns 5% das coisas de lá [da República Dominicana].”

Funcionou assim com “Fui fiel”, música gravada por Gusttavo Lima, que ajudou a popularizar no Sudeste o arrocha nordestino. O hit foi produzida por Pepato, que também prepara o lançamento de um projeto de Henrique e Juliano mais influenciado por Romeo Santos e Prince Royce – a primeira faixa, “Quem pegou, pegou”, já foi divulgada.

Fonte: Folha Max

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