POLÍCIA

15% dos assassinatos cometidos contra mulheres no Brasil, não são reconhecidos como feminicídio.

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Quase 15% dos homicídios de mulheres cometidos em 2020, em que os autores do crime eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas, não foram registrados devidamente como feminicídio, segundo o 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (15).

A Lei do Feminícidio, de 2015, prevê que assassinatos cometidos por companheiros ou ex-companheiros da vítima sejam registrados como tal. No entanto, 377 homicídios de mulheres registrados no ano passado nessas condições não foram tipificados como feminicídio, de forma correta, pelas autoridades policiais.

A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, diz que são casos em que o erro da tipificação se deu logo no início, no momento do registro do crime. Isso porque o autor já era conhecido.

“Sabemos que depois da investigação alguns casos podem ser reclassificados, quando não sabem a autoria, quando não está muito claro que aquilo foi um feminicídio”, diz Samira.

Para a diretora do Fórum, há dois motivos para que os registros não sejam feitos da forma correta: falta de treinamento e preconceito.

O estado do Ceará tem a maior taxa de homicídios de mulheres, mas apenas 8% foram registrados como feminicídio, muito abaixo da média nacional, 34,5%.

Segundo Samira, falta um treinamento para que os sistemas policial e judiciário não deixem de registrar mulheres como vítimas de feminicídio apenas por elas não “se encaixarem no estereótipo da mulher virtuosa”.

O número de vítimas de feminicídio foi recorde em 2020. Houve 1.350 vítimas, um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior (veja abaixo).

Os dados indicam que 9 em cada 10 mulheres vítimas de feminicídio morreram pela ação do companheiro, do ex-companheiro ou de algum parente.

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Entre as vítimas de feminicídio, verifica-se uma distribuição mais igualitária entre as faixas de 18 a 24 anos (16,7%), de 25 a 29 anos (16,5%), 30 a 34 anos (15,2%) e 35 a 39 anos (15,0%), com poucas vítimas entre crianças e adolescentes.

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Já entre os demais homicídios de mulheres, há uma maior concentração entre meninas e mulheres jovens, com 8,8% das vítimas com 12 a 17 anos no momento da morte, 22,1% entre 18 e 24 anos e 15,3% de 25 a 29 anos, totalizando metade das vítimas como jovens (49,8%).

A diferença mais significativa na comparação entre os feminicídios e os demais assassinatos de mulheres se dá em relação à arma utilizada. Enquanto armas de fogo respondem por 64% de todos os demais assassinatos de mulheres, semelhante à média nacional, a maioria dos crimes de feminicídio ocorrem com a utilização de armas brancas como facas, tesouras, canivetes, pedaços de madeira e outros instrumentos (55,1%) utilizados pelo agressor.

Violência contra a mulher

O Anuário mostra uma redução de praticamente todas as notificações de crimes contra a mulher em 2020, primeiro ano da pandemia.

Os registros de lesão corporal em decorrência de violência doméstica, por exemplo, caíram 7,4%, passando de uma taxa de 229,7 crimes por grupo de 100 mil mulheres para uma taxa de 212,7 por 100 mil. Mesmo diante desta redução, os números ainda impressionam: 230.160 mulheres denunciaram um caso de violência doméstica em 26 unidades da federação, sendo o Ceará o único estado que não informa os números.

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Isto significa dizer que, ao menos 630 mulheres procuraram uma autoridade policial diariamente para denunciar um episódio de violência doméstica.

Também caíram os registros de ameaça contra a mulher (-11,8%) e de estupro e estupro de vulnerável (-14,1%). É possível perceber uma queda brusca nos registros de estupro em abril de 2020, o primeiro mês de isolamento social de prevenção à pandemia de Covid-19, que volta a crescer em maio.

Sobre a queda da violência contra a mulher, Samira, Marina Bohnenberger e Isabela Sobral avaliam que ainda é cedo para avaliar se houve queda na violência doméstica e sexual ou se a queda foi apenas dos registros “em um período em que a pandemia começava a se espalhar, as medidas de isolamento social foram mais respeitadas pela população e muitos serviços públicos estavam ainda se adequando para garantir o atendimento não-presencial”.

Na contramão, o número de medidas protetivas de urgência, do Judiciário, cresceu, passando de 281,9 mil em 2019 para 294,4 mil em 2020, um aumento de 4,4%

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Os dados de chamados de violência doméstica à Polícia Militar no 190 também indicam crescimento, com 16,3% mais chamadas no último ano. Foram ao menos 694.131 ligações relativas à violência doméstica, o que significa que, a cada minuto de 2020, 1,3 chamados foram de vítimas ou de terceiros pedindo ajuda para um episódio de violência doméstica.

Segundo o Anuário, diante das diferenças apontadas pelos registros das polícias Civil e Militar e dos tribunais de Justiça, se faz necessário o monitoramento destes indicadores e a garantia de acolhimento e proteção às mulheres em situação de violência doméstica.

 

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