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POLÍCIA

‘Sem vacina, minha única filha, de 8 anos, morreu por covid

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“Sinto um vazio enorme: acaba de fazer um mês que minha filha, Ana Luísa, morreu de covid-19. Ela faria 9 anos nesta semana, dia 20 de janeiro, e era tudo para mim: além de única filha e neta, minha companheira, melhor amiga e um amor de criança. Uma menina cheia de sonhos, que se divertia fazendo dancinhas no Tik Tok, dizia querer ser policial ou confeiteira e amava preparar bolo de fubá comigo. Como o pai dela e eu nos separamos há dois anos, nós dormíamos juntas e ela gostava de orar ou cantar em louvor a Deus antes de dormir. Agora, só me resta chorar.

 

Minha filha estava bem até o início de novembro. Ela ia à escola, estava feliz em rever os amigos e adorando a terceira série. Desde o início da pandemia, era a mais cuidadosa de casa: em sua bolsinha, sempre tinha máscara, álcool em gel e ela lavava as mãos o tempo todo. Não saía de casa sem máscara jamais e tomava banho assim que chegava da escola.

Em 8 de novembro, Ana Luísa teve febre, e eu a levei ao médico. Ele a examinou e me disse que era dengue. Eu segui todos os protocolos para a doença, mas, no dia seguinte, ela passou a tossir, então, voltei ao hospital. Desta vez, a consulta foi com uma médica, que diagnosticou a covid. Depois disso, Ana Luísa fez um raio-X e o exame mostrou que o pulmão dela já estava todo comprometido e a saturação, muito baixa. Foi inacreditável como a doença foi silenciosa. Aconteceu tudo muito rápido.

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Antes disso, Ana Luísa nunca teve resfriado, gripe, nada. Era uma menina saudável, sem problemas de saúde ou doença crônica. Ela era gordinha, mas fazia aulas de natação e balé. Não sei de quem ela pegou covid. A única pessoa da família que também teve a doença foi o pai dela. Meu teste, foi negativo. Soube que na escola pelo menos três crianças fizeram o teste e tiveram resultado positivo.

 

Em 12 de novembro, Ana Luísa piorou e os médicos disseram que ela teria de ser entubada. Conversei muito com ela no dia anterior e expliquei tudo o que estava acontecendo. Em nenhum momento ela chorou. Já eu, chorava escondido no banheiro. Antes do procedimento, falei baixinho no ouvido dela que a amava muito e que iria ficar ao seu lado o tempo todo. Ela estava serena e tranquila. Eu, desesperada.

Sempre tive a convicção de que ela ficaria bem e acreditei o tempo todo em sua recuperação. A loja onde trabalho como vendedora, no Guarujá [litoral de São Paulo], me deu todo o suporte para eu poder ficar com ela, já que menores de idade podem estar acompanhados dos pais. Passei 30 dias na Unidade de Terapia Intensiva ao lado de Ana Luísa. Não sai de perto da minha menina nenhum minuto.

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Ana Luísa ficou 15 dias entubada e outros 15 respirando por meio de uma traqueostomia. Enquanto estava entubada, eu conversava com ela, colocava músicas para ela ouvir. Minha filha teve um tratamento muito digno no hospital  Guilherme Álvaro, em Santos [SP]. Não tenho o que reclamar, eles trataram minha filha muito bem.

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Mas infelizmente minha princesa não resistiu ao tratamento: ela morreu na madrugada de 12 de dezembro. Quando ela partiu, fiquei sem chão. Se eu pudesse, teria morrido no lugar dela. Tive vontade de ir junto com ela.

Desde então, minha família está destruída. Assim como eu, o pai de Ana Luísa está devastado. Muita gente foi ao enterro, e ali entendi que não tem nada mais devastador do que enterrar uma criança. Foi uma dor indescritível.

Retomei o trabalho para tentar distrair a cabeça, mas voltar para casa é sempre muito difícil, pois, antes, quando eu chegava, Ana Luísa estava me esperando no portão.

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Lucas do Rio Verde

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