Em entrevista ao G1, a estudante Julia Barroso Reis Silva, de 17 anos, neta dos idosos, relatou que os avós tiveram dois filhos e dois netos – ela e o irmão. Conforme conta, a mãe e a avó foram as primeiras da família a terem sintomas do coronavírus, seguidas de seu pai.
“Os três foram ao hospital e fizeram o teste. Minha avó vomitava o tempo inteiro, não conseguia se alimentar, estava muito desanimada e só dormia. Nós tínhamos muita dificuldade em entender o que ela estava sentindo, pois não falava, não reclamava, apenas dormia. Ela foi a primeira a ser internada no Hospital de Bertioga, e até então meu vô não tinha sintomas”, conta.
De acordo com a jovem, depois disso, o avô começou a ficar muito fraco, mas, de início, a família acreditava que fosse efeito dos remédios psiquiátricos que ele tomava, que eram fortes, porque tinha esquizofrenia. “Mas ele começou a cair, a ter muita febre, e pelas condições dele, era muito difícil saber como estava, por isso, chamamos a ambulância diversas vezes. Ele foi várias vezes ao hospital, mas em nenhuma fizeram teste. Na última vez que chamamos a ambulância, ele foi internado direto. Alguns dias depois do meu avô ser internado, minha avó foi intubada, os médicos diziam que o caso dela era preocupante”, conta.
A estudante relata que o avô parecia ter melhorado, fez chamada de vídeo com a família, e os médicos fizeram de tudo para ele não ser intubado. “Quando menos esperávamos, recebemos a notícia de que ele havia falecido, quando tentaram fazer a intubação. Foi muito difícil para nós, não conseguíamos acreditar no que estava acontecendo”, desabafa.
A família passou, então, a manter a esperança de que a avó se recuperaria, mas os rins dela não estavam saudáveis, e seria preciso fazer hemodiálise. Então, ela foi transferida a um hospital de Santos. “Estávamos muito confiantes de que tudo iria dar certo depois da hemodiálise. Mas ela não resistiu, faleceu depois da tentativa de fazer a diálise”, lamenta.
Julia reitera que todos sempre foram muito cuidadosos com relação à prevenção à doença, e que até então, não tinham nenhum outro caso de Covid-19 na família.
“Sempre entendemos a magnitude da doença, e tínhamos muito medo pelos meus avós. Sabemos que as mortes não se tratam apenas de números, mas de famílias destruídas. Meus avós tinham muita dificuldade de entender o que estava acontecendo, minha avó sentia muita falta de sair, de ver a família dela, até de ir na padaria de manhã. Meu avô sentia falta de ir à igreja, que era o que ele mais amava fazer. Eles já estavam muito desanimados por ficarem muito em casa. Acreditamos que a primeira pessoa a pegar Covid-19 foi a minha tia ou o meu pai, no trabalho, porque ambos precisavam trabalhar, ou no mercado, que era o único lugar para onde saímos na semana anterior”.
Vacina
A família afirma que ambos não conseguiram tomar a primeira dose de vacina contra a doença, que quando procuraram a unidade de saúde, pois se encontravam dentro do público-alvo a ser imunizado, no fim de março, as doses esgotaram ainda pela manhã. “Eles foram por volta das 11h do dia 26 de março, e não tinha mais senha, porque tinha esgotado a vacina. Ficaram de entrar em contato, e até hoje não sabemos o que aconteceu, porque nunca deram retorno. Então, nos deixa triste saber que a vacina chegou à cidade e eles não conseguiram ser imunizados”, afirma a neta.
A estudante ainda relata que a família passa por um momento muito difícil. “Eles [avós] estavam muito animados para tomar a vacina. Meu avô sempre falava que não via a hora de chegar nele, e escrevia em seu caderno o quanto esperava que a pandemia um dia acabasse.
Então, foi muito triste tudo isso. Está sendo dolorido, porque eles eram pessoas muita amadas, não pudemos estar ao lado deles e nem se despedir. Eles eram pessoas muito boas, alegres, amorosas e carinhosas. Estamos destruídos. Perder alguém para a Covid-19 é uma dor que não desejamos para ninguém”, finaliza.
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