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“Temos que escolher quem salvar”, diz PM sobre resgates das vítimas

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Ruas inundadas, casas que deixaram de existir e centenas de pessoas em cima de telhados. Este é o cenário descrito pelo tenente-coronel Felipe Sommer da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), piloto da aeronave Águia 07, que sobrevoa as regiões do Rio Grande do Sul, em busca de vítimas afetadas pela chuva histórica no estado gaúcho. Até a manhã desta segunda-feira (6), 83 mortes foram confirmadas. Outras 111 pessoas seguem desaparecidas.

O socorrista de Santa Catarina atua nos resgates desde a última quarta-feira (1°), quando a primeira equipe da PMSC foi enviada para ajudar o Rio Grande do Sul. Segundo Sommer, por conta da capacidade do peso que a aeronave suporta, muitas vezes, as equipes precisavam escolher qual vida salvar.

— A gente teve que fazer escolhas muito difíceis, como por exemplo, quem resgata e quem deixa para trás. Tiveram ocorrências que a gente teve que escolher levar a criança, a mãe e deixar o pai, por conta da capacidade de peso da aeronave. Isso é muito difícil e algo que também abala muito porque, na verdade, queremos salvar todo mundo. Só que não conseguimos. É inviável — conta Sommer ao NSC Total.

 A equipe de socorristas, na qual Sommer faz parte, atua nos resgates das 7h às 17h, horário de voo permitido da aeronave, parando somente para abastecer. O time ajuda às vítimas das enchentes nas regiões de Porto Alegre, Sarandi, Canoas, Eldorado e São Leopoldo.

— Recebíamos um chamado específico para fazer um resgate na casa tal, de número tal, na rua tal. Só que a gente chegava lá e a casa não existia mais, a rua não existia mais, só existia no Google Maps. Em cima da casa, tinham diversas pessoas abanando, acudindo, colocando os bebês e crianças para cima, para o helicóptero ver, e a gente tinha que escolher quem salvar. Isso foi realmente um ponto muito marcante — conta.

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“Choramos algumas vezes”

Quando a equipe da PMSC chegou em Porto Alegre na última quarta-feira (1°), não sabia o que iria encontrar, conta Sommer. Mesmo não sendo acostumados com a gravidade da ocorrência, os socorristas resgataram 34 pessoas no primeiro dia.

— Quando nós chegamos e a gente viu a magnitude e a complexidade da missão, nós precisamos nos reinventar, porque a gente não está acostumado a atender esse tipo de ocorrência — conta.

No segundo dia, o número de resgates subiu para 244, incluindo mulheres grávidas, crianças, pessoas com dificuldade de locomoção e animais de estimação. Segundo o piloto do Águia 07, quando as vítimas enxergavam a aproximação dos socorristas, muitas tentavam se jogar para dentro da aeronave, em uma corrida pela vida.

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— Tiveram pessoas que nós resgatamos que perderam metade da família, que perderam pais. Bem material praticamente todos perderam. A bordo do Águia, nós choramos algumas vezes. A gente tinha que engolir o choro e cumprir a missão. Esse era o objetivo — relata.

Sommer, que também atuou no resgate das vítimas das enchentes de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, no ano passado, conta que enfrentou nos últimos três dias a maior experiência dos 20 anos em que atua na PMSC.

— Foi sem dúvida nenhuma a maior experiência profissional da minha vida. Quando entramos na PMSC, fizemos um juramento de que a gente vai cumprir a nossa missão e vamos preservar a vida mesmo com o risco da nossa própria. E foi exatamente isso que a gente fez. A gente deixou de lado tudo que tinha para tentar salvar o maior número de vidas possíveis — diz.

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As equipes da PMSC, que chegaram na quarta-feira, retornaram a Santa Catarina nesta segunda. A sensação, conforme Sommer, é de exaustão e emocional abalado. Entretanto, ainda assim, existe o sentimento de fraternidade e humanidade.

— Gratidão pelos meus conterrâneos não estarem passando por isso. Gratidão porque podemos ajudar e estar em condições com a ferramenta para poder resgatar as pessoas que precisam ser ajudadas e dar uma segunda oportunidade de vida àquelas pessoas — fala.

O Rio Grande do Sul enfrenta problemas relacionados às fortes chuvas desde domingo (28). Até o momento, conforme a Defesa Civil do estado, há 83 mortes confirmadas, com 111 pessoas desaparecidas e 276 feridos, além de cidades que registraram estragos, enxurradas e alagamentos.

Na manhã desta segunda-feira (6) o Corpo de Bombeiros Militar de SC, que também atuam nos resgates, realizou o revezamento das equipes de Força-Tarefa (FT) que estão atuando em apoio aos gaúchos. A rendição, como é chamada essa troca, aconteceu no quartel da corporação em Araranguá.

— Fomos o primeiro Estado a enviar ajuda aos nossos irmãos gaúchos e nesta segunda-feira, com o revezamento das equipes, Santa Catarina passa a ser a maior equipe de bombeiros militares atuando em apoio ao Rio Grande do Sul — afirma o Governador Jorginho Mello.

Os 32 bombeiros que atuam no Rio Grande do Sul desde a última quarta-feira (1) retornam para Santa Catarina para serem substituídos por militares das equipes de FT dos Batalhões de Florianópolis, Curitibanos, Blumenau, Criciúma, Itajaí, Tubarão, Canoinhas, São José e Balneário Camboriú.

 

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