ECONOMIA
Taxa de recusa ao Censo 2022 é de 2,43%, aponta IBGE
Publicado em
2 de fevereiro de 2023 - 12:17por
Da Redação
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quinta-feira (2) que a taxa de domicílios que se negaram a receber os agentes do Censo Demográfico de 2022 é de 2,43% após seis meses dos agentes em campo. Segundo o instituto, a taxa é alta e os técnicos irão trabalhar para reduzi-la nos próximos meses.
Esse percentual é consideravelmente maior em localidades onde há maior concentração populacional. Em São Paulo, que lidera o ranking entre os estados, a taxa de recusas é de 4,49%, o que equivale a cerca de 720 mil domicílios em que o morador se recusou a prestar informações ao IBGE.
O coordenador técnico do Censo, Luciano Duarte, relata que várias formas de recusas foram observadas durante a operação. Ele menciona que há, já no treinamento dos recenseadores, instruções para identificar quando há pessoas morando na casa. “Ele vai, por exemplo, avaliar se tem cachorro em casa, se tem planta, se tem roupa no varal e, a partir daí, vai ter um indicativo de que, embora não tenha ninguém em casa naquele momento, aquele domicílio é uma unidade habitada”, diz.
“Em algumas situações durante a abordagem o recenseador percebe que tem gente em casa, mas a pessoa não quer atender. Ou então o recenseador deixa uma folha de recado na caixa dos correios ou por debaixo da porta, mas não tem retorno. São situações de recusa velada”, completa.
Em outros casos, o morador chega a atender o recenseador, mas pede que ele retorne em outro momento e, após sucessivas voltas em horários alternativos, recebe a mesma resposta. Essa situação também é considerada pela equipe técnica do Censo como uma forma velada de recusa.
É uma cena que acontece com frequência no cotidiano da recenseadora Walquíria Nunes, que começou a trabalhar no Censo em outubro do ano passado. No bairro Santa Rosa, em Cuiabá, capital de Mato Grosso, ela iniciava sua rotina às 8h, mas eventualmente precisava estender o término da jornada para encontrar os moradores em casa.
“Esse era um bairro de classe média alta e, no horário em que eu fazia as visitas, raramente achava alguém em casa. Como eu faço faculdade à noite, às vezes me atrasava porque só achava os moradores por volta das 17h30 ou 18h. Muitas vezes a pessoa não quer atender depois desse horário por ter receio de ser um assalto e para a gente também é meio perigoso andar sozinha à noite”, relata.
Mato Grosso é o segundo estado com maior percentual de recusas no país (3,38%) e Cuiabá também aparece em segundo lugar no ranking entre as capitais (4,3%). “Temos tentado retornos às unidades não visitadas, em horários em que seja possível encontrar os moradores. Existe uma lei que obriga os moradores a responderem ao IBGE, que sempre é citada pelos agentes censitários”, diz a superintendente do IBGE em Mato Grosso, Millane Chaves, que destaca também o envio de cartas e recados aos moradores e ofícios destinados às administradoras de condomínios e associações de síndicos. Com o número alto de recusas e de moradores ausentes, Walquíria conta que levou quase dois meses para finalizar os setores censitários do primeiro bairro onde entrevistou os moradores na capital mato-grossense. “Tinha umas casas onde eu batia palma e ouvia que a pessoa estava lá dentro, mas o morador não abria a porta. Em outras casas, a pessoa não tratava mal, mas olha para você e realmente fala que não vai atender”, conta.
O coordenador técnico do Censo ainda destaca outra forma de recusa: quando a rejeição não parte do morador, mas do próprio condomínio. “Para o recenseador conseguir abordar um apartamento, é preciso passar por uma portaria ou ter autorização do síndico, do porteiro ou da administração do prédio. Uma situação que ocorre em áreas mais nobres, como a Zona Sul do Rio ou alguns bairros de classe alta em São Paulo e de outros estados, é o impedimento da entrada dos recenseadores”.
Para reverter essa situação, os técnicos do IBGE elaboraram um protocolo que deve ser seguido pelo recenseador e pela coordenação local. “Há um modelo de ofício a ser entregue aos síndicos ou à representação dos condomínios. Quando esse documento não tem efeito prático, o recenseador é instruído a recorrer à polícia local. Essa é a recomendação porque, por lei, ninguém pode impedir uma unidade habitacional de responder ao Censo. Há situações em que uma pessoa tenta impedir um condomínio inteiro de participar do Censo”, afirma.
No Rio de Janeiro, terceiro estado com maior taxa de recusa (3,21%), as equipes do Censo também se esforçam para reverter o nível alto de rejeição. “A principal estratégia é a preparação do servidor no momento da abordagem. Isso depende muito de como a pessoa conversa com o informante, como explica a pesquisa”, ressalta o superintendente do IBGE no Rio de Janeiro, José Francisco Teixeira Carvalho.
Ele explica que, em situações de recusa, o supervisor vai ao local para verificar a situação. “Se ele não conseguir fazer a entrevista, enviamos uma primeira carta explicativa sobre a importância de responder ao Censo, com o contato do recenseador para que o informante possa ligar para ele e, também, com a identificação, permitindo que ele confira no 0800 ou pelo site do IBGE”, diz.
Ele atribui o alto número de recusas – cerca de 194 mil domicílios no estado – ao contingente populacional e ao medo da violência. “O Rio de Janeiro é o terceiro maior estado em população e a capital é a segunda mais populosa do país, então há maiores taxas de recusas. Isso tem a ver também com a insegurança, porque os informantes ficam preocupados em abrir a porta de casa para pessoas, em atender aos telefonemas. Essa alta taxa de recusas não tem acontecido só na capital, mas também na Baixada Fluminense e em cidades da região metropolitana como Niterói e São Gonçalo”, afirma.
“Antigamente nós tínhamos as taxas de recusas mais altas em áreas mais nobres, onde os moradores têm um maior poder aquisitivo, como Barra da Tijuca, Lagoa e Ipanema, mas isso também foi se estendendo a outros bairros, como Méier, Madureira e Ramos, onde também estamos tendo problemas em termos de recusa”, completa.
Essa mudança também foi observada em São Paulo. Lá, diferentemente do que ocorreu no Censo anterior, a recusa não está centralizada só na capital, mas foi espalhada por vários munícipios do estado. Um dos destaques é Várzea Paulista, que tem a maior taxa de recusa entre os municípios do país (19,6%). Na capital, o distrito da Consolação também se destaca no percentual de moradores que se recusam a receber o recenseador (33,7%).
“É muito diferente do que aconteceu nas últimas campanhas censitárias. Eu credito isso ao novo ambiente em que nos encontramos. Nós estávamos em uma pandemia, temos uma escalada de insegurança e as pessoas estão mais sensíveis, ocupadas em trabalhos remotos e em outras atividades que não existiam em 2010. Então, esse conjunto de coisas realmente levou a gente a ter um cenário de coleta muito diferente do Censo 2010”, diz o superintendente do IBGE em São Paulo, Francisco Garrido.
O superintendente destaca que entre os esforços para reverter o número de recusas no estado mais populoso do país está a ida de servidores do interior para os municípios da região metropolitana e para a capital. “Eles vêm para liderar o trabalho com as viaturas do IBGE. Esses colaboradores já vêm com a turma pronta para sair para determinados setores que a gente já tem mapeado para que eles cumpram essa missão, seja de coleta, seja para esse trabalho de maior intensidade em supervisão e controle de qualidade”, explica Garrido. Esse reforço de pessoal foi necessário em um estado que, em nenhum momento da operação censitária, chegou a preencher 50% das vagas para recenseador.
Além de altos níveis de recusas, o Censo 2022 também tem registrado percentuais elevados de moradores ausentes. A média do país até o dia 31 de janeiro foi de 4,62%. Para efeitos de comparação, no Censo de 2010, não havia um indicador separado para recusa e moradores ausentes. A média das duas situações, somadas, chegou a 1,5% ao fim da operação censitária.
Entre as Unidades da Federação, Mato Grosso tem a maior média de moradores ausentes (14,04%), seguido por Espírito Santo (9,58%) e São Paulo (8,04%). A superintendente do IBGE em Mato Grosso afirma que são feitas pelo menos quatro visitas a um mesmo domicílio quando o morador não é encontrado em casa nessas ocasiões, e no mínimo uma delas ocorre fora do horário comercial. “Temos casos de mais de dez retornos ao domicílio sem sucesso”, diz. Garrido associa o percentual elevado desse indicador em São Paulo às mudanças culturais.
“A dinâmica de trabalho afetou bastante isso. A média de moradores diminuiu no estado de São Paulo e as pessoas trabalham e estudam. Então normalmente têm uma rotina diária de ir para o trabalho e já ficar para o estudo. Isso também dificultou bastante a coleta das informações, tendo em vista que, em alguns casos, o recenseador volta além das quatro vezes normais previstas no manual. Nós tivemos que voltar até dez vezes em determinados domicílios ou condomínios para cumprir a coleta e mesmo assim a gente acabou com percentuais altos de moradores ausentes”, pontua.
Em São Paulo, a taxa de recusa reflete seu tamanho populacional. Em uma área territorial de 248.219,485 km², vivem 46,6 milhões de pessoas, população superior a de países como Bélgica e Holanda, por exemplo. Somente nesse estado, cerca de 4,49% dos moradores negaram responder a pesquisa, resultando na maior taxa do país (dado atualizado em 31 de janeiro de 2023). Para efeito de comparação, a média de recusa no Brasil é de 2,43%. Inúmeros fatores podem explicar esses dados, como a diferença de renda entre as localidades, por exemplo.
De acordo com dados do Censo 2010, a renda média dos paulistanos que vivem nos distritos da Consolação e Santa Cecília é três vezes maior que a do Brás ou Pari. Todos os distritos citados estão localizados na região central da capital paulistana; ou seja, numa mesma região encontram-se espaços com aspectos socioeconômicos distintos.
E isso se reflete no Censo 2022: na Consolação, a taxa de recusa é de 33,85% (a maior taxa da capital paulistana); já o Brás tem a menor taxa (2,45%). Esses dados mostram que geralmente distritos onde os residentes possuem maiores rendimentos têm as maiores taxas de recusa, enquanto os distritos nos quais os moradores têm menores rendimentos possuem taxas mais baixas.
Para Antônio Lima, recenseador da região central do município de São Paulo, a recusa impacta totalmente o trabalho do recenseador. “Como recenseador eu quero realizar o máximo de questionários, não só pela questão financeira, pois ganhamos por produtividade, mas também para entregar as informações que o IBGE precisa. E para isso acontecer, você tem que insistir, ficar ligando várias vezes para os moradores”, explica.
“Cheguei a ligar seis vezes para a mesma pessoa por interfone. – Daqui a pouco eu respondo, daqui a pouco. Mas não responde. Tem pessoas que não levam o nosso trabalho a sério. Por outro lado, tem moradores muito simpáticos e atenciosos que nos tratam muito bem, ajudando em nosso trabalho”, desabafa Antônio.
Uma estratégia que ele utiliza para diminuir a recusa é ser simpático e atencioso na primeira abordagem. “Se não der certo, eu continuo insistindo, mas sempre com respeito”. No Copan, o icônico edifício projetado por Oscar Niemeyer, Antônio relembrou quando tentou recensear um morador. “Fiquei um mês procurando ele e nada. Como eu também moro no Copan, eu sempre o cumprimentava, mas nunca podia falar comigo. No último dia de recenseamento no edifício, eu o encontrei no elevador e falei – Agora você vai responder! Ele respondeu – Você venceu, ok. Aí finalmente consegui”, conta Antônio.
Wesley Mendonça, 24, está atuando como recenseador desde o início da coleta. Com base em sua experiência, ele afirma que a recusa não afeta somente o seu desempenho, mas também a sua autoestima. “Ao ser rejeitado por um morador, é comum pensar – Poxa, será que não estou conseguindo abordar os moradores da forma correta? Será que as pessoas estão duvidando de mim? Quando isso acontece, o recenseador é atacado por um sentimento de síndrome do impostor e fica desanimado, pois acha que não está conseguindo convencer a população a participar do Censo. Além disso, quando um síndico ou porteiro se mostra indiferente ao recenseador, é comum pensar que seu trabalho não possui importância alguma”, comenta.
Dessa forma, para aumentar a receptividade do público em relação a coleta censitária, Wesley vem adotando certas técnicas de abordagem. “Muitas vezes, as pessoas não compreendem a importância do Censo; então, explico acerca do papel social da pesquisa. Além disso, eu também tento acompanhar os horários de chegada e saída dos moradores, pois esta é uma questão crucial para ser bem atendido”. Recenseamento em condomínios de SP é facilitado por Associação de Condomínios
A paisagem urbana paulistana é rodeada por um mar de edifícios. Normalmente são nesses domicílios que os recenseadores têm as maiores dificuldades de acesso. Para contornar esse problema, associações de condomínios atuam neste Censo para dirimir a questão da insegurança ao receber o recenseador.
Para José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), é imprescindível que os moradores de prédios compreendam a importância da pesquisa, para receberem o recenseador e fornecerem as informações solicitadas corretamente.
Em relação à segurança, Graiche afirma que atuar em parceria com os síndicos e condôminos é fundamental para que a taxa de recusa diminua. “O que ocorre normalmente é que os recenseadores ainda são barrados nos prédios, atrasando a pesquisa. Diante desse cenário, AABIC, desde o início, atuou em uma parceria inédita com o IBGE em São Paulo para garantir a realização do Censo 2022, por meio de materiais de divulgação e envio de correspondências, envolvendo todos os administradores, síndicos e funcionários. Além disso, sempre alertamos para que os síndicos realizem a checagem prévia da identidade e matrícula do recenseador no site do IBGE, com a finalidade de garantir a segurança de todos”.
Serviço inédito na operação censitária no país, o Disque-Censo foi disponibilizado desde o fim do ano passado. Nele, as pessoas que ainda não foram recenseadas têm a oportunidade de ligar e solicitar a visita de um recenseador.
“Primeiramente, o Disque-Censo foi aberto em 18 municípios do estado, e depois solicitamos o uso em todos os outros municípios, o que já foi feito. Ultimamente temos recebido cerca de 250 a 300 chamados diários. Então enviamos para os responsáveis pela área e eles encaminham um recenseador para o domicílio que solicitar”, explica o superintendente do IBGE no Rio de Janeiro.
Além do 137, o informante que ainda não respondeu ao questionário do Censo deve ligar para o 0800 721 8181, que estará disponível até o dia 20 de fevereiro ou procurar uma agência do IBGE na sua cidade.
Desde o início da operação, em 1º de agosto, até o dia 31 de janeiro, foram recenseadas 185.827.709 pessoas, em 65.657.749 domicílios no país. Isso representa cerca de 89,45% da população do país, de acordo com o resultado prévio (207,8 milhões de pessoas). Já em relação ao número estimado, de 213,3 milhões, esse contingente de recenseados corresponde a 87,11%.
A cobertura completa dos setores censitários foi praticamente toda concluída em janeiro de 2023. Em fevereiro e março, permanecerá em andamento o processo de revisão, controle de qualidade e apuração do Censo, com tentativas de reversão de recusas, revisitas a domicílios com morador ausente para realização de entrevistas, além de verificação de domicílios vagos, de uso ocasional, possíveis duplicidades e omissões e preparação para divulgação. A previsão é de que o IBGE divulgue os resultados definitivos do Censo referentes à população dos municípios em abril de 2023.
*Com informações de Agência IBGE
Fonte: IG ECONOMIA
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Disque-Censo 137
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