POLÍCIA

Há 4 anos, tenente do Bope era morto por colegas de farda

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Neste dia 13 de maio, a morte do tenente do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Carlos Henrique Scheifer, completa 4 anos sem o julgamento dos acusados. A viúva do policial, Tássia Paschoiotto Scheifer, cobra respostas sobre o assassinato do marido e punição aos responsáveis.

 

O policial foi morto aos 27 anos com um tiro de fuzil que o atingiu no abdome, durante operação em um distrito de União do Norte (700 km de Cuiabá). Os policiais estavam em busca de criminosos da quadrilha de assalto a banco, na modalidade “Novo Cangaço. Ele chegou a ser levado para o hospital da cidade, mas não resistiu.

A princípio, a versão apresentava pelos colegas policiais era de que ele tinha sido atingido por um criminoso escondido na mata, porém a história caiu por terra, quando se descobriu que a bala saiu da arma usava pelo cabo Lucélio Gomes Jacinto.

Além de Lucélio, foram denunciados pela morte do policial o 3º sargento, Joailton Lopes de Amorim, e o soldado Werney Cavalcante Jovino. O trio foi preso em março de 2019 e solto meses depois.

Até agora, as testemunhas de acusação foram ouvidas pela Justiça e está marcada para 1° de junho oitiva de pessoas arroladas pela defesa dos acusados. As audiências já foram marcadas e canceladas várias vezes desde o início do processo.
Para a viúva do policial, a demora em obter resposta e Justiça pela morte do marido é uma tortura que prolonga ainda mais a dor da perda.

 

 

Ela não acredita em acidente e critica lentidão da Polícia Militar em punir os assassinos do marido.

“Ninguém me dá resposta mais. Não estão ligando para isso. Só consigo alguma coisa quando dou escândalo na polícia. Eles me chamam de louca. Eu fico doente cada vez que vou atrás de cobrar sobre o inquérito”, disse a jovem, que havia se casado com o militar há pouco mais de um ano quando tudo aconteceu.

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A Corregedoria da Polícia Militar instalou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta dos agentes. Segundo a assessoria, o documento comprovou a ação irregular do policial Lucélio e agora tramita um processo demissório do policial.
“A resposta não me dá resposta nenhuma. Todo mundo está seguindo a vida e eu continuo esperando. O policial que matou meu marido é afrontoso, ele ri quando me vê. Tentou se justifica por meio de amigas minhas. Já passei por muita humilhação. Eles estão trabalhando normalmente e meu marido morreu. A Polícia Militar abandonou totalmente o caso”, denuncia Tássia.

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A jovem conta que, oficialmente, a polícia não lhe informa nada. O que conseguiu saber era por meio de conhecidos que tinha na polícia, mas hoje “ninguém tem mais interesse nesse caso. Meu marido morreu há 4 anos e fica por isso mesmo”, desabafou.

 

Além de cobrar punição na polícia e na Justiça pela morte do policial, a viúva também move processos contra o Estado na esfera cível. Ela pede indenização porque o marido não usava o equipamento de proteção apropriado, férias e licenças prêmio que ele tinha direito e não recebeu, indenização pelo falecimento em ação.

“Quando as pessoas souberam do pedido de indenização de R$ 4 milhões ouvi barbaridades. Diziam que eu queria dinheiro, tirar proveito da morte do meu marido. Se fossem R$ 4 milhões que trouxesse meu marido de volta eu daria, daria minha vida. Ainda tenho que lidar com esse tipo de coisa”, desabafou.

Tássia relatou que os primeiros 3 anos após a perda do esposo foram de profunda depressão, tristeza e perda do sentido da vida. A jovem relata que ganhou peso, parou a faculdade e se entregou completamente. Ela só voltou a viver após retiro e dedicação à igreja.

Antes do fato, ela trabalhava, estudava, e parou toda a vida por conta da tristeza. “Cada dia que passa eu oro a Deus que melhore um pouco. Quando penso nos meus últimos dias com ele, não consigo acreditar que meu marido morreu. Os últimos anos foi a Igreja Católica que me salvou. Foi no acampamento que entendi que precisava voltar para a vida”, relatou.

 

Tássia contou o quanto o marido era apaixonado pelo trabalho e a quantidade de cursos que fazia para se aperfeiçoar. Foram momentos difíceis de distância e sabia que não tinha escolha contra a polícia, ou apoiava a vontade do marido ou eles se separavam. A jovem escolheu o amor e sempre incentivou o esposo nas decisões profissionais.

“Naquele último mês antes dele morrer, parecia que a gente estava se despedindo. Pela primeira vez comecei a brigar com ele. Falando muito que o Bope iria acabar com meu casamento. Tivemos uma briga por causa do trabalho na quarta e ele morreu no sábado”, comentou.

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A jovem afirmou que não acredita que a morte do esposo tenha sido acidente, como levantado a princípio e sustentado pelos réus.

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“Se fosse um acidente a primeira coisa a ser feita seria falar a verdade. Eu como esposa de policial sei que esse tipo de acidente pode acontecer. Eles sustentaram a mentira por muito tempo. Se não fosse a balística, a gente nunca ia saber. Depois, o atirador usou munição de outra arma que não era a dele. São explicações que ninguém me dá. O julgamento nunca termina, a investigação da polícia nunca termina”, acusou.

Hoje ela cursa Psicologia em uma universidade particular de Cuiabá. A formação foi uma forma que encontrou para ajudar outras pessoas. Pois, além da igreja, foi o acompanhamento psicológico que a salvou.

 

Outro lado
Em consulta ao andamento processual, foi constatada a audiência marcada para dia 1° de junho.

Em contato com a Polícia Militar, foi informado que o IPM foi concluído e que agora tramita o processo demissório de desligamento dos policiais.

Confira nota na íntegra
As investigações por meio do inquérito policial militar (IPM) que apurou a morte e as circunstâncias que levaram ao óbito do Tenente PM Carlos Henrique Scheifer, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), na noite do dia 13/05/2017, na zona rural do município de Peixoto de Azevedo-MT, após cumprimentos de cotas determinadas pelo Ministério Público Estadual, encerraram-se com o indiciamento dos três policiais militares que estavam na guarnição PM do Tenente Scheifer.
Os militares foram indiciados pelos crimes previstos no Código Penal Militar (CPM) de homicídio qualificado (Art. 205, §2º, III, IV, V e VI), falsidade ideológica (Art. 312), condescendência criminosa (Art. 324) e comunicação falsa de crime (Art. 344). O processo encontra-se tramitando na 11ª Vara Criminal de Cuiabá Especializada na Justiça Militar.

A Polícia Militar instaurou um processo administrativo demissório, denominado Conselho de Disciplina, contra os policiais militares acusados da participação e execução da morte do Tenente Scheifer. O processo administrativo encontra-se em andamento conforme previsto na legislação, em que são assegurados os direitos de ampla defesa e contraditório aos policiais acusados. Eles não estão mais lotados no Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), e encontram-se afastados das atividades operacionais desenvolvidas pela Polícia Militar, exercendo serviços administrativos até conclusão do processo demissório.

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