“Ele é completamente frio, calculista e obsessivo. Por meses, monitorou a vítima — em todos os lugares que ela ia — até ter uma oportunidade para matá-la”. Assim a delegada Elen Gomes Pereira Souto, titular da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), descreveu o mototaxista que matou a facadas a ex-namorada em uma casa do bairro de Paciência, na Zona Oeste do Rio. Ele ocultou o corpo em uma mata fechada na Serra do Matoso, em Itaguaí, na Baixada Fluminense.
O crime aconteceu na tarde do último dia 26, após Davis de Araújo Coutinho, de 32 anos, chamar a ex-companheira, a esteticista Jéssica Carla do Nascimento da Costa, 30, para uma conversa. Para os investigadores, tudo não passou de uma emboscada. O assassinato aconteceu, de acordo com a DDPA, após o suspeito não aceitar o fim do relacionamento. N noite da última segunda-feira, os restos mortais da jovem foram encontrados. O acusado, que foi preso nesta terça-feira, ajudou os investigadores a encontrar o cadáver.
De acordo com as investigações, Jéssica desapareceu após ir à casa do suspeito – a 500 metros de onde ela morava com a mãe e os irmãos. Horas após, o desaparecimento foi comunicado pela família na 36ª DP (Santa Cruz) e, em seguida, o caso foi encaminhado para a DDPA.
A investigação apontou que Jéssica, preocupada, enviou sua localização para uma amiga quando estava dentro da casa do acusado. Câmeras de segurança instaladas na rua também confirmaram que ela esteve no local. As informações apuradas revelaram que o suspeito apresentava temperamento violento e possuía histórico de agressões com outra ex-companheira, com a qual tem dois filhos.
Após o registro de desaparecimento e investigações, policiais civis estiveram na casa do acusado, no dia 30 de abril, e interditaram o imóvel para realização de perícia. Quando a equipe retornou, posteriormente, o imóvel estava parcialmente queimado. Os agentes constataram que o incêndio foi provocado pelo acusado na tentativa de atrapalhar as investigações e o trabalho da perícia.
— Ele tinha um comportamento obcecado e cego pela vítima. Durante todo tempo, tentou atrapalhar, obstruindo as investigações. Ele queimou provas, tentou queimar a casa. O acusado não aceitava o fim do relacionamento — conta Ellen Souto.
Os investigadores descobriram que, horas antes de matar a ex, Davis a vigiou por mais de sete horas. A jovem estava em uma festa
Fugiu após o crime
Os investigadores descobriram que, após matar Jéssica Carla, Davis passou a ser ameaçado por paramilitares que atuam em Paciência. Com medo de ser assassinado, ele fugiu para o Centro do Rio e estava se escondendo em uma pensão. Ontem, foi preso após o Plantão Judiciário expedir um mandado de prisão.
— Ele pensava que, sem corpo, não existiria o crime. Além disso, ele estava seguro de que não havia provas. Ele estava enganado. Conseguimos materializar o fato e entregar à Justiça, que concedeu a prisão — completa a delegada.
Após mais de quatro horas de interrogatório, o suspeito confessou que havia matado a ex e levou os agentes até onde o corpo estava.
Ele contou que cometeu o crime sozinho e levou o corpo da mulher, horas após o crime, em um carro até o local. Os restos mortais de Jéssica estavam em um saco plástico e enrolado por uma fita crepe.
Davis responderá pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver.
Mensagem para a amiga antes de morrer
Temendo pela própria vida – já que durante os mais de três anos de relacionamento havia sido agredida outras vezes pelo ex-companheiro – Jéssica enviou uma mensagem para uma amiga, pelo WhatsApp, pedindo que ela ficasse em alerta. “Caso não dê notícias em duas horas compartilha com a minha amiga (sic)”, dizia o recado, enviado pelo aplicativo de mensagem.
Familiares de Jéssica chegaram a procurar o acusado, que negou participação no caso e a registrou um boletim de ocorrência contra parentes da vítima por uso indevido de imagem.
Ontem, coube à dona de casa Graziella Karla do Nascimento, 25, reconhecer o corpo da irmã no Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio. As duas, além da mãe e de um outro irmão, moravam juntos em Paciência. Emocionada, Graziella lembra com carinho da irmã.
— Minha irmã era um amor de pessoa, todo mundo gostava dela. Ela ajudava financeiramente aqui em casa, já que minha mãe é cega. Jéssica era comunicativa, brincalhona — diz Graziella.
A dona de casa lembra que, por conta das agressões que sofria de Davis, Jéssica decidiu terminar o relacionamento em fevereiro, após três anos. Como ele não aceitava, chegou a pular o muro da casa onde elas moravam em busca de Jéssica algumas vezes.
— A gente sabia que ele era agressivo, grosseiro. Várias vezes o pegamos olhando para dentro de casa, procurando ela. Esse cara perseguia a minha irmã. Infelizmente, a gente não acredita que vai acontecer isso na nossa família. Só quero que ele pague pelo que fez com a minha irmã e que ele fique o resto da vida na cadeia.
O corpo de Jéssica ainda está no IML. Nesta quarta, o cadáver passará por uma análise da arcada dentária. O sepultamento deverá acontecer no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. A data não foi marcada